A raiva positiva a favor da liderança

“Parar diante de um rompante de raiva para analisar sob diversas óticas é ter empatia e resiliência diante das tomadas de decisão”


Por Simone Moura Cabral, psicóloga, especialista na ciência do bem-estar e professora dos cursos de Gestão da Estácio

03/10/2021 às 07h00

Você tem raiva? De alguém ou de alguma situação? Quem não tem? A raiva é uma das emoções primárias que os seres vivos sentem naturalmente. Quando começamos a nos observar, vemos que a sentimos durante vários momentos do dia, seja em situações simples ou naquelas que requerem grande descarga de energia.

Por ser uma emoção existencial, a raiva precisa ser identificada e mais bem compreendida, para assim administrá-la na vida pessoal e nas corporações. Podemos identificá-la a partir das reações do corpo, como as feições do rosto, as extremidades (braços e pernas) ou nas mãos cerradas. Algumas pessoas sentem até a vibração interna nas entranhas quando a raiva vem. Perdem a voz ou até mesmo externam esse sentimento com agressividade.

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Mas, apesar de a vivenciarmos corriqueiramente, a raiva pode ser ressignificada como uma ferramenta de reflexão. Ao buscar entendê-la e aceitá-la, teremos a chance de: (1) identificar uma possibilidade de mudança de um hábito antigo; (2) ter mais posicionamento diante das situações com que não concordamos; (3) visualizar uma situação sobre diversos ângulos; (4) aceitar o que a realidade nos oferece.

Quando vamos analisar as corporações, muitas mudanças não acontecem, porque, às vezes, as lideranças e as equipes são envolvidas pela energia da raiva negativa e se fecham para outras possibilidades. Um exemplo é que em algumas lideranças é negada a participação dos colaboradores nas estratégias decisórias, porém são eles que muitas vezes estão lidando com o cliente final.

O posicionamento diante de comportamentos negativos repetitivos é uma libertação, pois dá-se um ponto final e toma-se uma decisão. Parar diante de um rompante de raiva para analisar sob diversas óticas é ter empatia e resiliência diante das tomadas de decisão. Às vezes, o cérebro precisa de uma distração para não ser cooptado pela energia da raiva negativa. Um exemplo: diante de uma chateação, é estratégico para um líder dar uma saída da sala de reunião, tomar uma água e voltar, “evitando se afobar”, para escutar as contribuições dos outros. Isso vale no dia a dia de trabalho e também em qualquer outra situação da nossa vida.

Em alguns momentos, vivemos num mundo irreal. Queremos, por exemplo, que não haja conflitos nas equipes. Eu digo sempre, nos processos em que intervenho, que, onde existem pessoas, existe vida pulsando. É salutar haver conflitos, desde que sejam administrados com profissionalismo. Vamos possibilitar a transformação das energias negativas da raiva em crescimento para todos os envolvidos?

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