Os subalternos de ‘Star Trek’ e novas visões para o universo de ‘Star Wars’

Por Júlio Black

06/10/2021 às 07h00 - Atualizada 05/10/2021 às 15h48

Oi, gente.

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Partindo da lógica vulcana, fãs de “Star Trek” e “Star Wars” não têm do que reclamar, pois os dois principais universos de ficção científica têm sido presença constante no cinema e TV/streaming nos últimos anos. Mais recentemente, os brasileiros puderam acompanhar duas animações de cada franquia: “Lower decks” (Paramount+) para os trekkers, e “Visions” (Disney+) para a turma que acompanha as histórias passadas na galáxia muito distante de “Guerra nas estrelas”.

Vamos começar por “Star Trek: Lower decks”. A produção da CBS foi criada por Mike McMahan e é uma divertida tiração de sarro com o universo de “Jornada nas estrelas”. A história se passa em 2380, em algum momento depois do final de “ST: A nova geração”, e tem como cenário principal a USS Cerritos (NCC-75567), da Classe Califórnia, e uma das espaçonaves mais irrelevantes da Frota Estelar – o que já fica evidente pelo seu nome, homenagem a uma cidade de apenas 50 mil habitantes da região de Los Angeles.

Se naves importantes como a Enterprise e a Excelsior são responsáveis por fazer o primeiro contato com novas civilizações e negociações diplomáticas críticas, a Cerritos é quem cuida do chamado “segundo contato”: resolver a parte burocrática, estabelecer canais de comunicação, transporte de suprimentos, apenas coisa chata.

Por isso, os protagonistas não estão na ponte de comando; a trama é centrada nos chamados subalternos do título em português, os alferes que ralam nos deques inferiores (os “lower decks”) e geralmente fazem figuração enquanto os personagens principais estão salvando o universo de cubos Borg, viajando no tempo ou se estranhando com os klingons.

Logo, nada de personagens com a relevância de um capitão Kirk ou Picard, muito menos Spock: acompanhamos, nos dez episódios da primeira temporada, os alferes Boimler, que sonha em chegar ao posto de capitão; Mariner, filha da capitã e especialista em desobedecer aos protocolos da Frota Estelar, contrabando e coisas do gênero; Rutherford, o nerd da engenharia; e Tendi, uma orion deslumbrada com sua primeira nave após sair da Academia da Frota.

“Star Trek: Lower decks” consegue divertir o telespectador com uma história leve – mesmo que para um público adulto – e que sabe fazer piada com todos os clichês de “Jornada nas estrelas”, o que deve irritar os fanboys chatos que acham que o universo criado por Gene Roddenberry é algo imaculado e maior que vida. Sabe a turma que diz “isso não é ‘Star Trek’”? Então.

E para quem está apenas a fim de curtir uma boa história, “Lower decks” ainda entrega uma metralhadora de referências, citações e easter eggs que é quase impossível de acompanhar. Além de citar diversos personagens e histórias já conhecidos do público, como quando Mariner diz já ter estado em uma prisão klingon (lembra de “Star Trek VI”?), a animação tem várias passagens claramente inspiradas em filmes e séries – por exemplo, o início do “Star Trek” (2009) de J.J. Abrams.

Além do humor e das referências, “ST: Lower decks” tem um roteiro esperto, bem amarradinho, que vai desenvolvendo tramas paralelas e personagens durante toda a temporada, incluindo ainda ótimas cenas de ação, algum drama, trilha sonora que não deve nada às produções anteriores e até a participação de personagens já conhecidos do público.

Se lembrarmos que o universo “ST” ainda está representado no streaming por “Discovery”, “Picard” e a futura “Strange new worlds” – ou seja, logo teremos QUATRO SÉRIES de “Jornada…” para assistir -, os trekkers de bom coração e mente aberta não têm do que reclamar. Só se for muuuuuito chato.

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Quem também não tem que fazer beicinho são os fãs de “Star Wars”. Além da ótima surpresa com “The Mandalorian”, tivemos recentemente a estreia de “The bad batch”, “Asoka” e “The Book of Bobba Fett” chegam num futuro próximo, e ainda teremos a série com Obi-Wan Kenobi e outra que esqueci o nome. Além dessa lista considerável, tivemos recentemente a estreia de “Star Wars: Visions”, série de antologia com nove episódios criados por sete estúdios de animação japoneses.

“Visions” já começou bem se pensarmos em sua proposta: criar histórias dentro do universo de “SW” sem a obrigação de estarem ligadas com as aventuras de Luke Skywalker e sua patota – a exceção fica por conta do episódio com a participação de Jabba, The Hutt. Por isso, pudemos acompanhar aventuras passadas em épocas e locais dos mais diversos de toda a galáxia, com uma estética típica dos animes e uma qualidade de produção absurda.

É até difícil escolher os melhores episódios, porque estão todos praticamente no mesmo nível, mas tem para todos os gostos. O estilo ágil e arrojado do anime caiu muito bem em “Star Wars”, seja pelos cenários, temáticas, visual e toda a influência estética, cinematográfica, de cultura e folclore. É possível encontrar influências e referências a Akira Kurosawa, Astro Boy, “Lobo solitário”, histórias e lendas japonesas, música… A lista é interminável, então bora lá assistir. Mesmo quem não sabe a diferença entre Darth Vader e Dr. Spock vai curtir a série – ou melhor, as duas.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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