Tarantina retorna com single ‘Salvador Allende’

Faixa instrumental – que também ganhou videoclipe – é a primeira de uma série que o trio pretende lançar até o final do ano


Por Júlio Black

29/09/2021 às 07h00

tarantina
Douglas Rodrigues, Janderson Casanova e Victor Polato formam o Tarantina (Foto: Cláudio Pires)

Dois anos após o lançamento de seu primeiro EP, o trio instrumental Tarantina está de volta ao batente. O grupo lança nesta quarta-feira (29), nas principais plataformas de streaming musical, o single “Salvador Allende”, primeiro de uma série de canções isoladas que pretende lançar mensalmente até o final do ano como preparativo do álbum planejado para 2022. O lançamento também marca a estreia de Victor Polato no contrabaixo, acompanhando Janderson Casanova (guitarra) e Douglas Rodrigues (bateria). A música também vem acompanhada por videoclipe, que pode ser conferido no canal do Tarantina no YouTube.
Janderson Casanova conta que a banda estava no pique de tocar onde fosse possível após lançar seu primeiro EP, em 2019, quando chegou a pandemia e todo mundo precisou ficar no seu quadrado. Segundo ele, foi quase um ano sem um ver a cara do outro, na fissura de ensaiar e voltar aos palcos. Quando reencontrou Douglas, no final de 2020, combinaram de retomar os ensaios, mensais e respeitando o distanciamento social e as medidas de prevenção contra a Covid. Foram dois meses de ensaios no esquema guitarra e bateria no início do ano, até Victor Polato assumir o baixo há cerca de quatro meses.
“Eu toco guitarra todo dia, sempre vou testando alguma coisa, registrando no celular e depois passando para os outros. E só no período de pandemia compus 15 músicas, foi um período de composição intensa e de apetite muito grande para podermos voltar a tocar juntos”, diz o guitarrista, que optou por lançar músicas avulsas, estratégia adotada por inúmeros artistas desde que o streaming passou a ser o principal meio de se chegar até o público. “A indústria fonográfica mudou, nem todo mundo compra álbum físico, então precisamos lançar dessa forma, mesmo fragmentando a obra. Sabemos como é difícil para o artista independente, por isso estamos procurando leis de incentivo para viabilizar a gravação do álbum.”

A origem da música

Sobre a homenagem musical ao ex-presidente do Chile, Salvador Allende – morto quando um golpe de Estado implantou uma ditadura sanguinária no país, em 1973 -, Janderson explica que ela surgiu há dois anos, quando houve uma insurgência popular no país sul-americano contra a Constituição do país, escrita durante a ditadura de Augusto Pinochet.
“Aquele momento me inspirou muito, pois queria que também aqui estivéssemos na rua exigindo nossos direitos constitucionais, num momento em que vivemos um movimento conservador e autoritário, com uma democracia frágil”, diz o músico, que também é professor de geografia com especialização em geopolítica. “Também fui inspirado pelo livro ‘As veias abertas da América Latina’, do (escritor uruguaio) Eduardo Galeano. A ideia não é ser panfletário, e sim captar a emoção, o que acho que conseguimos.”
A Tarantina, porém, é uma banda de música instrumental. Como encarar, então, o desafio de retratar uma figura histórica sem letras, apenas por meio da melodia? “A música instrumental sempre foi uma referência para mim, pois sou mais ligado à parte instrumental do que na letra – o que não é tão comum. A melodia é o que me leva à emoção, e sob esse aspecto vejo o rock instrumental como um ato de resistência, e retratar uma figura como o Salvador Allende, um progressista que lutava contra as forças conservadoras, acaba sendo um desafio e também um ato de resistência”, argumenta.
Ainda sobre o desafio de tratar de questões profundas em forma de música, porém sem letras para acompanhar, ele adianta o tema do próximo single, que já deixa em quem conhece a sonoridade do grupo – calcado no stoner rock e com influências de Black Sabbath e rock dos anos 70 – aquela curiosidade. “A próxima será sobre o sentimento de vazio, numa pegada mais existencial, com violoncelo, guitarra e violino. Nosso desafio é mostrar pela emoção do instrumental uma mensagem, seja ela qual for.”

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