Turismo de bike vira alternativa para viajar em tempos de pandemia

Econômico e sustentável, o cicloturismo se mostra como uma forma cuidar da saúde do corpo e da mente, além de incentivar a economia de pequenas cidades


Por Mariana Floriano, estagiária sob a supervisão do editor Bruno Kaehler

12/09/2021 às 07h00

O turismo foi um dos setores mais afetados pela pandemia do coronavírus. Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a economia global do turismo encolheu cerca de 80% em 2020. Essa redução em escala global afetou também pequenas cidades do interior do Brasil, que tinham como pilar de sustentação a visita de turistas que transitavam durante todo o ano.

Foi pensando em estimular o turismo de uma forma segura e consciente que surgiu a JF Cicloturismo. O projeto promove viagens a cidades do interior de uma forma diferente: pelos pedais da bicicleta. Unindo esporte, lazer, mobilidade, saúde e acima de tudo, segurança em tempos de pandemia, o grupo de ciclistas sai de Juiz de Fora com destino a cidades no interior de Minas Gerais como Tiradentes e Santa Cruz de Minas, ou para o estado do Rio de Janeiro, como em viagem recente realizada para Petrópolis.

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O idealizador, Marcelo Fernandes, é formado em Turismo. De acordo com ele, a pandemia trouxe a inspiração para apostar nesse tipo de modalidade que é o cicloturismo. “Foi onde eu pensei, estou sem viajar porque não podemos ir aos lugares, mas o ciclismo, que eu já praticava, não parou. O esporte estava funcionando como uma forma de terapia para as pessoas, que estão praticando uma atividade física e em contato com a natureza. Por que não juntar o turismo com o ciclismo?”, refletiu.

Viagens exploram cidades históricas do interior de Minas Gerais com um grupo de até 50 ciclistas em média (Foto: Arquivo Pessoal)

E em dezembro de 2020 surgiu a JF Cicloturismo, primeiramente com grupos reduzidos, de no máximo 15 pessoas, mas atualmente, como Marcelo conta, com grupos que já chegaram a ultrapassar 50 participantes, caso da última aventura, para Tiradentes. “As pessoas conhecem o projeto, gostam e voltam. E sempre recebo mensagens de mais e mais gente querendo começar a ‘cicloviajar’”.

Esse foi o caso da pedagoga Fernanda Magri, que conheceu o projeto por meio do Instagram e levou a ideia para o grupo de ciclismo no qual ela participava. “Nós achamos muito bacana a proposta e resolvemos fazer o passeio. Por enquanto só fomos para o destino de Petrópolis, mas já estamos planejando ir em outros”. Ela ainda conta que a viagem seguiu todos os protocolos de segurança, não colocando ninguém em risco, o que para ela é essencial em um momento de pandemia.

“Saímos de Juiz de Fora em um ônibus e em Petrópolis fomos apoiados por um guia turístico da região. Foi muito bacana, tivemos um lugar para organizar nosso café da manhã e nosso almoço antes de voltar”. De acordo com ela, praticar o cicloturismo proporciona uma experiência diferenciada do turismo convencional. “Quando a gente conhece novos lugares com o ciclismo, a gente parte para uma questão mais aventureira, que é o que temos gostado de fazer no momento”.

Recente destino foi em Petrópolis, onde o grupo visitou a cachoeira da Rocinha no distrito de Secretário (Foto: Arquivo Pessoal)

Cicloturismo com pacote completo

Marcelo explica que existem dois tipos de cicloturismo – o autônomo e o com suporte. O primeiro é aquele no qual a pessoa organiza seu passeio sozinha, sem um roteiro pré-definido; já o com suporte, modalidade que ele oferece, possui todo um planejamento, além de contar com a ajuda de outros profissionais para agregar na experiência.

“Eu realizo toda a organização com antecedência, pesquisando um roteiro e agregando todo o apoio necessário, como hospedagem, transporte da bike, dos viajantes, serviço de guia local, mecânico e personal trainer para ajudar no condicionamento físico durante a viagem”, conta Marcelo. “Normalmente saímos de Juiz de Fora de ônibus de turismo, vamos até determinado ponto de apoio na cidade visitada, e de lá exploramos a região. Viajamos cerca de 50 a 100 quilômetros por cidades vizinhas à que estamos com o ponto de apoio”.

‘Pedal traz nova experiência sensorial’

O profissional de Educação Física Daniel Netto começou a pedalar no início da quarentena, e viu na JF Cicloturismo a oportunidade de vivenciar uma experiência que unisse o esporte e a viagem. Ele conta que para o passeio a Tiradentes firmou uma parceria profissional com o projeto, oferecendo uma prática de alongamento que, de acordo com ele, deu uma nova face para a viagem. “Muitos ciclistas não têm esse cuidado de preparação com o corpo antes de praticar o exercício. Então foi muito interessante estimular esse autocuidado com o corpo e, logo em seguida, realizar um treino ciclístico em Tiradentes. Foi uma viagem bem prazerosa, que eu acredito que conseguimos unir vários elementos, como a questão histórica da cidade, sua paisagem bonita e também o cuidado com a saúde”.

Para ele, a prática do cicloturismo traz uma nova experiência sensorial às pessoas, oferecendo uma nova percepção geográfica do lugar conhecido. “Você começa a discutir a mobilidade urbana dentro dessa cidade, como ela poderia ser melhorada, ou como ela não é facilitada. Você passa a conhecer melhor a própria geografia do lugar, sua vegetação, as casas em volta, e até mesmo aprimora o contato com as pessoas, já que elas te param, perguntam de onde você vem, então é uma oportunidade de estabelecer vínculos. Algo que você não teria se estivesse de carro, por exemplo”.

Trajeto conta com apoio de profissionais para oferecer suporte físico e mecânico (Foto: Arquivo Pessoal)

Sustentabilidade e saúde

Marcelo afirma que a prática do cicloturismo, além de benéfica para a saúde do corpo e da mente, é econômica e ecológica. “Meu objetivo é que sejamos vistos como transformadores e incentivadores da causa ecológica global. Pois não emitimos gases poluentes e viajamos de forma sustentável. A prática também busca atentar para o respeito do ciclista no trânsito, já que somos mais frágeis e muitas vezes menos respeitados nas vias. Apesar do ciclismo vir crescendo, não vemos o surgimento ou a evolução de políticas públicas como ciclovias, leis, e incentivo à prática do esporte e lazer”.

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Atualmente, a JF Cicloturismo realiza no mínimo um passeio por mês. Porém, o objetivo é aumentar a periodicidade das viagens. Marcelo conta que também são feitos passeios dentro de Juiz de Fora, que são excelentes para quem quer aderir a prática do cicloturismo, mas não tem tanta experiência.

“O que a gente exige que a pessoa tenha para nos acompanhar é a familiaridade com o ciclismo e uma bicicleta confortável. Realizar passeios dentro da cidade é uma ótima opção para criar um condicionamento físico que vai te preparar para uma cicloviagem que exige um pouco mais de experiência. Por isso, a gente realiza viagens para a Zona Rural de Juiz de Fora que é pouco conhecida, mas tem paisagens muito bonitas”.

Novos destinos da JF Cicloturismo já estão com data marcada (Foto: Arquivo Pessoal)

Cidades como Tiradentes, Petrópolis, Ouro Preto e Mariana podem ser destinos dos ciclistas juiz-foranos em breve. Conforme Marcelo, “nossas próximas viagens são até a Rota do Ferro, entre Sabará, passando por Caeté até chegar na cidade de Santa Bárbara, na região central do estado de Minas.” Os esportistas-turistas podem acompanhar e entrar em contato com o projeto pelo Instagram @jfcicloturismo, onde os interessados também podem enviar mensagem com o intuito de participar. Além disso, Marcelo afirma que para aqueles que pretendem fazer parte do grupo, é possível conversar com ele pelo Whatsapp (32) 8817-4519. Mais que isso, deve-se possuir o principal: “A sede por aventura e muita determinação.”

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