Tenho um sono inquieto. Felizmente para mim, normalmente durmo a despeito de barulho da rua, festa, vizinho chato, luz acesa, travesseiro bom, ou o que for. Infelizmente para os outros, tenho o hábito de falar durante o sono, chegando às vezes a ter prosas inteirinhas com-ple-ta-men-te apagada.
Para minha pequena alegria, nos últimos dias o frio finalmente deu trégua e deu pra passar a noite de janela aberta pela primeira vez em muito tempo. Matheus veio me dizer que eu dormindo, soltei, indignada, puxando o edredom, como quem duvidasse de alguma brisa oportunista que entrou no quarto:
– Frioooo????
Se eu não me conhecesse muito bem, até desconfiaria que o amasiado estava de onda comigo. Mas é fato que reclamei do frio religiosamente todos os dias em que os termômetros se recusaram a subir, feito uma carola contando as contas do terço. E nem foi sonho. Pela irritantemente precisa imitação do Matheus, foi uma indignação tão genuína, impregnada em cada célula minha, que sequer movi uma pestana para protestar. Afinal de contas – cacete! -, frio de novo não!
Tenho procurado dar um tempo de consumir tanta notícia. Mas como se um coisa-ruim me soprasse no ouvido, entrei num buraco sem fim em que uma coisa puxava a outra: desdobramentos da CPI da vacina, variante Delta, crise hídrica, falta de imunizantes pra 2022, aquela roleta de infortúnios de estar no Brasil que a gente vê invariavelmente todo dia.
Obviamente a incursão informativa me deu, mais uma vez, o maior dos bodes, principalmente porque, como qualquer pessoa com juízo, sei exatamente quem nos arrastou pro atoleiro em que estamos.
Eu poderia até dizer o nome do desinfeliz de uma vez (e mais uma vez) . Mas vou esperar o Matheus me contar depois do meu garantido futuro protesto adormecido.