Exclusão e ressurreição no Grito dos Excluídos

“Mas somos todos convidados a participar, de alguma forma, desse grito, que deve repercutir por milhões de vozes até mudar as condições de vida de toda a população brasileira”


Por Equipe “Igreja em Marcha”, Grupo de Leigos Católicos

20/08/2021 às 07h00

O Cristianismo se identifica por uma afirmação que, segundo o Apóstolo Paulo, é um escândalo para os religiosos e uma loucura para os sábios: é de um crucificado que vem a Salvação da Humanidade. É escândalo e loucura, porque a morte na cruz era, no Império Romano, a morte mais vergonhosa a que podia ser condenada uma pessoa. Era o sinal máximo da exclusão social. Pois bem: o sinal de que o Reino de Deus está entre nós é que Jesus de Nazaré, um crucificado, ressuscitou. Esta é a Boa Notícia – Evangelho – que as Igrejas cristãs têm o dever de proclamar até o fim dos tempos.

Uma forma original de proclamar essa Boa Notícia foi criada no Brasil, em 1995: o Grito dos Excluídos e das Excluídas. Ao final do desfile cívico-militar do 7 de setembro, a rua é ocupada por grupos que vêm lembrar que muita gente fica fora dessa festa enquanto não forem atendidos seus direitos de cidadania. Numa sociedade de mercado, como a nossa, quem não tem dinheiro para atender suas necessidades fica excluído da própria sociedade. Mas é para essa gente excluída que a Igreja dá a Boa Notícia da Ressurreição: seus direitos serão plenamente atendidos, porque Jesus Ressuscitado estará sempre a seu lado. Confiem e continuem a reivindicar seus direitos de cidadania, porque Jesus não falha.

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Neste ano em que a morte devasta nosso povo, temos que clamar por VIDA EM PRIMEIRO LUGAR. E para que haja vida é preciso que os direitos básicos estejam garantidos: “Terra, teto e trabalho”, pedia o Papa Francisco já há alguns anos. Hoje se acrescenta: “Vacina e comida”. Recursos para isso não faltariam, desde que os ricos pagassem impostos proporcionais ao que pagam os pobres. Só falta vontade política para realizar uma verdadeira reforma tributária.

Este Grito de 7 de setembro de 2021 deverá ser um grito de fé. Fé que denuncia e anuncia, como toda verdadeira profecia. Fé em Jesus, que, excluído, ressuscitou para que tenhamos fé na vida, fé na humanidade, fé no sonho, fé na utopia, fé na promessa do Reinado de Deus.

Toda pessoa é convidada a participar desse Grito dos Excluídos e das Excluídas. Não importa se professa a Fé cristã ou segue o caminho de outra crença, religião ou filosofia de vida. Se nela pulsa um coração verdadeiramente humano, não faltará lugar para ela nesse grande Grito de 7 de setembro.

Devido às precauções exigidas pela situação de pandemia, nem todos poderemos estar na rua a clamar pelos direitos de cidadania de quem é excluído do banquete do mercado. Mas somos todos convidados a participar, de alguma forma, desse grito, que deve repercutir por milhões de vozes até mudar as condições de vida de toda a população brasileira.

Quando não houver mais nenhuma família sem teto, sem trabalho, sem terra, sem vacina e sem alimento – oxalá não só no Brasil, mas em todo o mundo -, poderemos proclamar que a Ressurreição de Jesus se completou na ressurreição de todos os filhos e todas as filhas de Deus. E essa Boa Notícia poderá ser traduzida em muitas outras linguagens religiosas que também proclamem a humanização da humanidade.

Para que essa esperança seja reforçada, convidamos quem nos lê a rezar a “Oração cristã com a Criação”, que o Papa Francisco colocou na Encíclica Laudato Si’: “Os pobres e a terra estão bradando: Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz, para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza”. Louvado sejais! Amém.

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