John David Washington é o ‘homem errado no lugar errado’ em ‘Beckett’, da Netflix

“Beckett”, thriller de suspense que estreou na Netflix na última sexta-feira (13), é facilmente identificável com as histórias sobre o “homem errado no lugar errado” de alguns clássicos do mestre Alfred Hitchcock. Para aumentar o interesse do público, o segundo longa do italiano Ferdinando Cito Filomarino conta com elenco de peso, incluindo John David Washington (“Infiltrado na Klan”, “Tenet”), Alicia Vikander (Oscar de atriz coadjuvante por “A garota dinamarquesa”) e Boyd Hollbrook (“Logan”), entre outros. O elenco, aliás, ajuda a compensar as falhas pontuais de direção e roteiro, escrito por Kevin A. Rice a partir da premissa imaginada pelo próprio diretor.

A história de “Beckett” se passa em 2008 e tem como protagonista o personagem homônimo interpretado por John David Washington, um pacato “cara da informática” que está passando férias na Grécia com a esposa, April (Vikander). Como os gregos estão atravessando um momento político conturbado, eles decidem viajar pelo interior do país. Tudo segue tranquilamente até Beckett dormir ao volante em uma viagem noturna, sair da estrada e bater em uma casa. Quando acorda, dias depois, ele recebe a notícia de que a esposa morreu, mas não deixam que ele veja o corpo. Ninguém responde a qualquer uma de suas perguntas, e não acreditam quando ele diz que havia pessoas na casa no momento do acidente.

Abalado pela notícia, Beckett volta até o local da tragédia, e aí a trama ganha outra reviravolta. Uma mulher desconhecida e um dos policiais aparecem e tentam matá-lo; ferido por um dos tiros, Beckett precisa fugir de seus perseguidores. Perdido no interior da Grécia e sem entender a língua local, ele terá que contar com a ajuda de estranhos – e confiar neles – para chegar até a embaixada dos Estados Unidos, enquanto seus algozes continuam a persegui-lo. Ao mesmo tempo, a tensão política segue crescendo no país e será fundamental entender o que levou o protagonista a se tornar um alvo que merece ser eliminado.

Surrado & baleado

Ferdinando Cito Filomarino estreou como diretor em 2015, com “Antonia”, que tem uma proposta artística totalmente diferente, mas o cineasta consegue entregar um resultado satisfatório ao se aventurar pela seara do suspense. Desde o início, o espectador fica com a expectativa de que algo muito errado vai acontecer a qualquer instante, e desde o momento em que Beckett começa a ser perseguido a tensão é onipresente.

Ao contrário de outros filmes recentes do gênero, em que os protagonistas são um verdadeiro “exército de um homem só”, aqui temos um protagonista que apanha – e muito -, que tropeça enquanto foge, cai, levanta ainda mais torto que antes e sente todos os ferimentos que vai acumulando durante a história. Por isso mesmo, quase todas as cenas de ação – seja de Beckett fugindo ou lutando com seus perseguidores – são “humanas”, fugindo daquela coreografia exagerada de outras produções.

“Beckett”, entretanto, tem seus defeitos. O início, em que Filomarino tenta mostrar seu protagonista como um sujeito manso e sem imaginação, é arrastado, insípido e destoa do resto do filme. Se as cenas de luta não exageram a coreografia, elas pecam em alguns momentos por serem rápidas demais e não oferecerem a sensação de perigo real e imediato. E a história perde um bocado de verossimilhança quando o protagonista está enfrentando uma ameaça mortal e não só consegue se livrar dela, como imediatamente já está em outro local.

Por fim, Beckett inesperadamente transforma-se no “exército de um homem só” no terceiro ato do filme, que tem uma resolução de mistério menos impactante do que se esperava. As derrapadas de roteiro e direção, entretanto, não estragam a experiência, com “Beckett” sendo um interessante exemplar de thriller de suspense inspirado nos mestres de décadas passadas.