58% dos profissionais 50+ se dizem pouco aptos a lidar com tecnologia
Pesquisa sinaliza que lidar bem ou não com esses novos formatos e ferramentas digitais pode ter mais a ver com o hábito do que com a idade
Os profissionais com mais de 50 anos se dizem aptos para trabalhar em home office ou no modelo híbrido, que mescla trabalho presencial com dias de atividades em casa. Porém, o uso de tecnologias e aplicativos de gestão, indispensáveis para esses cenários, ainda é um desafio para a maioria deles. É o que mostra uma pesquisa da consultoria Maturi em parceria com a NOZ Pesquisa e Inteligência, que ouviu 1.883 pessoas entre 23 de junho e 19 de julho.
O levantamento buscou entender os novos hábitos e a percepção do público maduro (como são chamados os profissionais 50+) sobre os efeitos da pandemia na realidade deles. Enquanto 80% dos entrevistados sentem-se preparados ou extremamente preparados para trabalhar exclusiva ou parcialmente em casa, 58% acredita estar pouco ou nada preparado para utilizar tecnologia e aplicativos de gestão. Outros 47% consideram que têm pouca destreza para lidar com ferramentas de colaboração on-line.
Um dado positivo é que 84% veem-se aptos a uma jornada flexível com mais autonomia, mas vale destacar que essa percepção é melhor entre aqueles com ensino superior (82%) e pós-graduação (90%). Além disso, os grupos que se dizem mais preparados para manejar recursos virtuais são aqueles que atuam em empresas, em regime CLT ou como pessoa jurídica, o que implica mais oportunidade de acesso a essas tecnologias.
Vale destacar também que 91% dos profissionais maduros que já atuavam em casa antes da pandemia sentem-se mais preparados para esse modelo, enquanto o percentual é de 60% entre os que não trabalharam no home office durante o período. Assim, lidar bem ou não com esses novos formatos de trabalho e com ferramentas digitais pode ter mais a ver com o hábito do que com a idade.
“Antes, esse público buscava um formato de trabalho mais tradicional porque era ao que estava acostumado. A partir do momento que a pandemia muda essa dinâmica, eles começam a se interessar e ver que tem muita oportunidade de se adaptarem a esse formato. Vimos muita gente se capacitando para isso e tem gente já preparada e aberta a esse modelo de jornada flexível, trabalhando por projeto como consultor. Já as pessoas com dificuldade de lidar com ferramentas mais avançadas estão buscando capacitação”, analisa Mórris Litvak, CEO e fundador da Maturi.
De acordo com a pesquisa, entre os que tem alguma ocupação, a maior parte (18%) atua como consultor, autônomo ou freelancer, reforçando que o mercado de trabalho para os 50+ está além do vínculo CLT. Isso sugere também o quanto os maduros estão dispostos a exercer algum tipo de atividade, porque 70% se diz apto a usar profissionalmente as redes sociais. Além disso, 80% buscou aperfeiçoamento em cursos on-line durante a pandemia, dos quais 53% investiu financeiramente em pelo menos um deles.
Ficar parado, aproveitando a aposentadoria, já não é opção para a maioria desses profissionais. “Hoje, as pessoas entendem que vão viver muito e pensar em aproveitar a aposentadoria é perto dos 80 anos e com dinheiro sobrando, uma realidade de parcela mínima da sociedade. A renda cai quando sai do mundo corporativo, então até buscar novos caminhos, muita gente vai precisar se manter por mais tempo”, diz o especialista em longevidade. Com as reformas previdenciárias, a tendência é que a aposentadoria fique cada vez mais longe e com menor valor, o que torna vital pensar em plano B.
Dificuldades dos profissionais maduros
O impacto da pandemia é sentida principalmente entre aqueles que estão sem ocupação, mas buscam recolocação, uma vez que 53% deles perderam o emprego durante a pandemia. Soma-se a isso o preconceito etário na vida profissional, que é considerado difícil e desafiador, ou muito, para 65% dos entrevistados na pesquisa.
Sobre oportunidades profissionais após o início da vacinação, 42% diz que nada mudou, 21% afirma que piorou e tem notado menos oportunidades, enquanto 32% considera que houve pequena melhora. O cenário instável trazido pela crise também pode ter intensificado as dificuldades que os maduros já enfrentavam antes: depois de mais de um ano, os impactos na vida financeira são o segundo maior desafio, apontado por 63% deles.
“A gente vê um preconceito grande que se acentuou na pandemia, mas tem percebido maior interesse das empresas sobre o assunto. Não necessariamente contratar, mas interesse sobre diversidade etária. Não vai ter emprego para todos, mas a gente conscientiza as empresas e busca influenciar políticas públicas. Mas as pessoas precisam se preparar e capacitar cada vez mais para uma vida de trabalho longeva e autônoma”, orienta o CEO da Maturi.
Litvak destaca que estar apto ou não a lidar com as novas tecnologias e transformações do mercado de trabalho tem mais a ver com perfil pessoal do que com a idade. “Tem gente que, sendo mais novo, não vai atrás, então idade não pode ser mais fator paras pessoas pensarem no que o profissional é capaz ou não.”
Dicas para empresas e profissionais 50+:
Para empresas
É preciso olhar além da questão de atualização tecnológica e entender que se, eventualmente, esse profissional não estiver atualizado com algum tipo de ferramenta, ele pode aprender a mexer. É preciso olhar também para as competências comportamentais, experiência, abertura ao novo. “A gente teve empresas que contrataram um grupo de pessoas pela Maturi e fizeram treinamento específico de ferramentas. Coisas mais técnicas, as pessoas aprendem conforme a necessidade da empresa”, diz.
Para profissionais com ocupação
É preciso buscar se desenvolver continuamente, praticar o lifelong learning. Nesse caso, as empresas também podem colaborar, incluindo os funcionários maduros nos programas de desenvolvimento profissional. “A gente sabe que, a partir de certa idade, as pessoas não são mais convidadas a participarem de treinamento. É preciso entender que, por mais que a pessoa tenha experiência, ela pode continuar aprendendo.”
Para quem busca recolocação
“É muito importante ter iniciativa de se capacitar, participar de ações e comunidades, eventos, fazer cursos e se conectar com outras pessoas, fazer networking e se inspirar no que os outros estão fazendo”, sugere Litvak. O especialista diz que é preciso estar aberto ao novo, ter humildade para reconhecer que há sempre coisas novas para aprender e se adaptar.
Para quem quer empreender
Ter o próprio negócio com mais de 50 anos de idade é tão desafiador quanto para um jovem. “Mas o jovem tem menos medo”, pontua Litvak. “Então, é não ter receio disso, tirar a ideia de que empreender não é para mim. Nesse formato, é bem mais possível conseguir renda do que buscar emprego formal”, comenta. Nesse caso, estar atento e capacitado em ferramentas tecnológicas e usar profissionalmente as redes sociais é igualmente importante.