Um dos piores filmes de 2021, ‘Mortal Kombat’ chega ao HBO Max

Versão para o clássico videogame decepciona com péssimo elenco e por deixar tradicional torneio de lutas para possível continuação


Por Júlio Black

12/08/2021 às 07h00

“Mortal Kombat”, um dos mais populares games da história, ganhou nova adaptação para os cinemas (Foto: Reprodução)

“Mortal Kombat”, que chegou ao HBO Max na última sexta-feira (6) depois de passar pelos cinemas, é uma das piores experiências cinematográficas que um ser humano pode ter em 2021. O longa do estreante Simon McQuoid consegue três “feitos”, por assim dizer: tornar os 110 minutos do filme uma tortura para o público em geral, revoltar os fãs da franquia de games e dar munição para a “maldição” de que jogos eletrônicos não rendem boas adaptações cinematográficas.

Ah, podemos acrescentar um quarto prodígio para o longa: reforçar a sensação de que a Warner Bros. é um conglomerado de mídia repleto de incompetentes que conseguem estraçalhar qualquer vestígio de boas ideias. Basta lembrar que o game “Mortal Kombat” foi um sucesso monumental desde seu lançamento, em 1992, com gráficos revolucionários para a época, pancadaria das boas, violência gráfica mas quase cartunesca e personagens que até quem não é do mundo dos games é capaz de conhecer. O jogo eletrônico ganhou dois filmes para o cinema, um desenho animado, série de TV, websérie e até peça de teatro (!).

PUBLICIDADE

Se ficarmos apenas na mitologia criada para os games, os roteiristas Dave Callaham, Oren Uziel e Greg Russo teriam material suficiente para criar uma ótima história, mesmo se quisessem aproveitar apenas a premissa rasa do game original. Paul W.S. Anderson, que também fez sua estreia ao dirigir o primeiro “Mortal Kombat” em 1995, foi esperto o suficiente para sacar que seu filme não deveria ser levado a sério e que bastava reunir os personagens em um lugar e _ parafraseando Ken Watanabe _ deixá-los lutar, que é o que o povo quer ver na tela. Mas o que tivemos foi um “Mortal Kombat” sem Mortal Kombat, e aí não dá.

Quero ser MCU quando crescer

O início do filme até engana. A história começa em 1617, quando o lutador (ninja? samurai?) Hanzo Hasashi (Hiroyoki Sanada), aposentado da vida de matança, é confrontado pelo passado na figura do cruel Bi-Han (Joe Taslim), que manda Hasashi (literalmente) para o inferno depois de matar sua esposa e filho. Acreditando que havia eliminado a linhagem do guerreiro, Han vai embora sem saber que a filha de seu inimigo estava escondida e passa a ser protegida por Lord Raiden (Tadanobu Asano).

O filme pula para os dias atuais e somos apresentados a um personagem que não havia nos games, Cole Young (Lewis Tan), um fracassado lutador de MMA que desconhece sua origem ancestral. Quando tem sua vida ameaçada por Bi-Han, agora rebatizado como Sub-Zero, ele descobre que sua marca de nascença (um dragão) é sinal de que ele é um dos escolhidos para defender nossa dimensão durante o Mortal Kombat, torneio que define o destino da humanidade. Se a outra dimensão – a Exoterra – vencer dez torneios consecutivos (e já foram nove em sequência), nosso planeta será entregue às criaturas das trevas.

E é aqui que o roteiro põe tudo a perder, pois o filme passa a ser um longo e inexplicável prelúdio para o torneio de Mortal Kombat, que (pasmem!) ficou para uma possível continuação, deixando a péssima impressão de que tentaram criar algo parecido com o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) com suas histórias interligadas em várias produções.

Por conta dessa pretensão, o longa prefere apostar numa trama em que os heróis ainda precisam descobrir quais seus poderes – chamados de arcanas _ depois de adquirirem a marca do dragão, numa série de treinamentos que se resumem a “vamos sair no soco e no chute até o seu poder se manifestar”. Ao mesmo tempo, Shang Tsung (Chin Han), o líder da Exoterra, age como vilão de desenho animado: apesar de ter um time muito mais forte que o de Lord Raiden, prefere melar o jogo e ir atrás dos inimigos inexperientes antes do início do torneio, que seria vencido com três dos quatro braços de Goro nas costas.

“Fatality” em si mesmo

Ao final do filme, fica a certeza de que a nova versão de “Mortal Kombat” entrará fácil na lista dos piores filmes de 2021. A produção prefere criar uma trama desnecessária de “escolhidos”, com roteiro cheio de furos e incoerências e apenas duas cenas de luta decentes (ambas envolvendo os personagens de Hiroyoki Sanada e Joe Taslim), além de efeitos especiais de terceira categoria e um diretor que erra em tudo que tenta.

Como cereja estragada de um bolo azedo, temos um dos piores elencos dos últimos anos, que não convencem ao interpretar alguns dos personagens clássicos dos games, como Sonya Blade, Kung Lao, Jax, Kano e Liu Kang. Nem os poucos fan services (“Kano wins”, “Flawless victory” e o único fatality do longa) conseguem fugir da sensação de “é só isso mesmo?” que permeia todo o longa.

O conteúdo continua após o anúncio

Filmes como “Operação Dragão” e “O grande dragão branco” já entregaram o mapa da mina para produções do gênero: reunir a galera num mesmo lugar e colocá-la para lutar, bastando oferecer motivação suficiente para saírem no soco. A fórmula é simples: meia hora apresentando e reunindo os personagens, explicar o que está em jogo e mandar todo mundo para o Mortal Kombat, deixando os próximos 80 minutos para a boa e velha pancadaria, com algum respiro aqui e ali até chegar à luta final.

Depois de fazer o dever de casa, bastaria que as cenas de luta fossem convincentes e empolgantes, e que se tivesse um elenco com pelo menos três “bons” atores ruins. Dessa forma, a história poderia se passar em uma ilha, em Honk Kong ou até em outra dimensão, pois o que o público quer é ver na tela o que já conhece dos games. Ao sequer entregar o Mortal Kombat que todos esperavam, “Mortal Kombat” dá um “fatality” em si mesmo.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.