Beatriz Ferreira se diz honrada com a prata, e pai fala em “sonho realizado”
Pugilista radicada em JF admite frustração pelo desejo do ouro; Sergipe se orgulha, critica arbitragem e já fala em Paris 2024
“Estou feliz em ser uma medalhista olímpica, de ter garantido a primeira final feminina do Brasil em Olimpíada e de ser a segunda mulher a conquistar uma medalha no evento para o boxe brasileiro.” Assim a pugilista radicada em Juiz de Fora, Beatriz Ferreira, iniciou seu primeiro posicionamento nas redes sociais após o histórico vice-campeonato olímpico conquistado no domingo, em Tóquio.
A atleta que, mesmo com a melhor campanha entre as mulheres do país nos ringues olímpicos, chegou a pedir desculpas ao pai, Sergipe, e ao Brasil, após a derrota na final para a irlandesa Kellie Anne Harrington, diante da frustração pelo desejo do ouro, voltou a reforçar que pensava na cor dourada da “mãe de todas as medalhas”, como ela chamou durante os Jogos Olímpicos, mas ressaltou a doação completa ao longo dos últimos anos.
“A prata não era a que eu queria, ainda batalho na minha cabeça tudo isso, mas estou feliz de ter encerrado os Jogos Olímpicos com um pódio. Sempre treinei, lutei, buscando dar mais força, buscando ter mais mulheres no esporte, e espero que essa conquista motive várias mulheres a se tornarem boxeadoras. Foi uma honra representar o meu país, a minha equipe, a minha família, amigos, fãs e todos aqueles que fazem parte da minha carreira profissional”, destaca Bia, agradecendo, ainda, as mensagens de apoio e o carinho recebido nas últimas semanas e garantindo que “o trabalho continua.”
‘Uma prata com gosto de ouro’
À Tribuna, o pai de Bia, Raimundo Oliveira, mais conhecido como Sergipe, agradeceu a filha pela prata. “É um orgulho só ter visto ela na Olimpíada, era o que a gente queria nessa batalha nossa de muito tempo. E ver ela realizando o sonho de todo mundo e ainda pegando uma medalha. É uma prata com gosto de ouro. E no Dia dos Pais ainda. Ela me deu um presente desse, não tem coisa melhor. Me sinto bem orgulhoso e feliz”, conta o também técnico de Bia e professor de boxe.
Apesar da alegria, Sergipe não escondeu sua insatisfação com a avaliação dos árbitros na final – também contestada pelo tetracampeão mundial Acelino Popó Freitas durante a transmissão da luta pela TV Globo. “Pela minha experiência do boxe, e acho que até para quem não tem tanto conhecimento da luta, Bia venceu bem o primeiro round. Depois achei muita injustiça porque numa final de Olimpíada não pode acontecer isso, porque são quatro, cinco anos de preparação. Achei que Bia levou. Não sei se sentiu um pouco o peso da final, claro que a adversária acertou dois golpes no final e que isso deve ter pesado muito para os árbitros, mas pelo que Bia fez, mesmo assim, ela venceu a luta, que nem todo mundo tem falado. Mas infelizmente a decisão não é minha”, lamenta Sergipe. “Isso deixou a gente um pouco chateado no momento, mas a ficha vai caindo e só de você estar lá e ainda conquistar a prata, vai ficar na história.”
Paris é logo ali
Se o ciclo olímpico para Tóquio durou um ano a mais, o de Paris será de apenas três temporadas e já está no radar da família baiana radicada em JF. “Conversei com a Bia, ela está meio abatida ainda, mas leva como conhecimento e já está de boa para começar um novo ciclo”, reforça o pai. “E Bia já vai pegar essa menina (irlandesa medalha de ouro em Tóquio) no próximo Mundial. Vamos ficando mais fortes. Minha filha é nova e começou a lutar tem pouco tempo, vem ganhando experiência. Mas se se preparem que na próxima (Olimpíada) ela vai mais forte e botar o terror. Os trabalhos continuam aqui, na seleção e vamos em busca desse ouro. A mãe de todas já está com a gente, mas queremos a outra cor”, projeta.
E se Bia precisa descansar da Olimpíada depois de uma experiência inédita, Sergipe, mesmo do outro lado do mundo em relação à filha, também vai recarregar as energias entre as aulas de boxe. “Tanta gente mandou mensagem que eu nem estava dando conta de todos os recados. Só sei que é melhor subir no ringue do que ver a filha lá. Não consegui dormir direito durante essas duas semanas, tive matérias enviadas pro Rio, BH, São Paulo, Salvador, minha terra, muita coisa. Vinham aqui em casa, os patrocinadores de Bia vieram fazer filmagem e ainda tô fazendo matéria pra caramba! Mas comemorei muito e dei uma descarregada também, porque essas duas semanas foram muito tensas. Entramos para a história do boxe, era o que faltava para o currículo, conto como medalha minha também, um sonho que sempre tive”, sorri.