Última chance
O Congresso terá, nesta semana, a oportunidade derradeira para definir as regras do pleito de 2022
Como é comum em Brasília, as lideranças políticas voltam aos seus redutos para cuidarem da vida pessoal e das bases, mas o clima atribulado da capital federal continua na agenda. Além do embate entre o presidente Jair Bolsonaro e os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso – responsável por uma desnecessária tensão entre os poderes, mesmo com a ação de bombeiros -, a discussão sobre a reforma eleitoral, com a criação de um novo código, e a adoção de um novo modo de eleger cargos legislativos ainda são os principais pontos a serem resolvidos.
A relatora do distritão, deputada Renata Abreu (Podemos-SP), tenta dar uma amenizada no seu impacto, admitindo a volta das coligações, ora impedidas por lei. Aí já há um problema. Ela tenta modificar uma questão que sequer foi adotada nas eleições nacionais, para que seja avaliada a sua eficiência. Foi efetivada no pleito municipal, mas não há como comparar as duas eleições. O embate municipal tem o viés paroquial, no qual muitos dos eleitos chegam aos legislativos por ações concentradas em seus redutos. Para assembleias e Câmara Federal a questão é outra.
A semana, portanto, será decisiva para tais demandas: reforma do código, mudança política e redução da tensão entre os poderes. Uma agenda e tanto que só terá sucesso se houver um mínimo de razoabilidade entre as partes envolvidas. Enquanto os bombeiros entram em campo para reduzir os impactos dos discursos do presidente, as matérias votadas no Congresso carecem de maior discussão.
Em princípio, como foi exposto neste mesmo espaço, o que está em pauta não leva o país a lugar algum, exceto para o jogo de interesses que perpassa a cena política. Detentores de mandato e celebridades comemoram tal possibilidade, mas haverá perdas imensuráveis na representação política, ora incentivada por uma série de mudanças nos últimos pleitos. O Congresso tornou-se mais representativo. O distritão poderá reverter tal cenário, num recuo que coloca o país, de novo, no ciclo dos “coronéis” de enxada e voto que mandam em seus rincões pelo interior do país.
É fato que as redes sociais minimizaram o isolamento, mas ainda há um expressivo número de brasileiros alheios ao mundo digital por opção ou falta de meios, que desconhece os bastidores de Brasília. A pressa para aprovar a legislação até o início de outubro terá um alto custo.