Jogo mental

Desistências de atletas de ponta jogam luzes na discussão sobre a saúde mental, problema que afeta boa parte da população


Por Tribuna

29/07/2021 às 07h00

A tenista japonesa Naomi Osaka, durante sua participação do torneio de tênis de Roland Garros, na França, um dos mais famosos do mundo, a despeito do favoritismo, desistiu no meio do caminho por não suportar a pressão das entrevistas obrigatórias, após as partidas. Alegou a fragilidade mental que a acometia. Na manhã de ontem, a ginasta americana Simone Biles, cotada para cinco ouros olímpicos, abordou a mesma questão ao desistir da final individual geral em Tóquio. Classificada para outras cinco finais, disse que “havia vida além da ginástica”.

Atletas de eventos de alto rendimento, sob pressão permanente para conquistar ou manter seus recordes, abdicam da vida normal e pagam um alto preço por suas opções. Biles e Osaka jogam luzes sobre uma questão que acentuou no ciclo mais crítico da pandemia, mas que faz parte da rotina de uma sociedade cada vez mais conectada e, ao mesmo tempo, mais incisiva em suas cobranças. O jogo mental se acentua com os julgamentos diários no tribunal das redes sociais, nos quais a desconstrução de biografias é uma constante ao mesmo tempo em que uma falsa felicidade é mostrada sistematicamente nas postagens.

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Mais do que nunca, a atenção à saúde mental tornou-se uma demanda necessária sobretudo para formatar a sociedade para esse novo normal. O que as atletas revelaram em suas decisões vai além do mundo dos esportes, no qual o sucesso, muitas vezes, camufla situações críticas do cotidiano. Personagens que brilham nas redes sociais não necessariamente têm a vida que apresentam em suas publicações.

O preocupante, porém, é que as exigências aumentaram, e, se não houver discussões em torno de políticas públicas consistentes, os riscos serão maiores. Os jovens, sobretudo, vivem um novo momento nessa modernidade tardia e precisam estar preparados para esse novo ciclo. Caso contrário, a não obtenção do “sucesso” passa a ser traduzida como um fracasso, o que, necessariamente, não procede.

Biles, a mais premiada ginasta dos últimos anos, e Osaka, segunda no ranking da ATP, são a face mais emblemática desse processo. Para o mundo passam a imagem do sucesso. Internamente pagam um preço muito alto. É possível alcançar o sucesso, mas sua manutenção exige ações mais críticas, que se refletem na performance dos atletas que os Jogos Olímpicos ora no apresentam.

A questão mental, porém, é uma demanda próxima do cidadão comum. O desconhecimento leva a julgamentos precipitados e, muitas vezes, com resultados irreversíveis, que poderiam ser evitados se houvesse maior discussão desse problema.

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