Avenida Liberdade

“Não se trata, portanto, de uma exposição de fotos de um partido ou de um determinado viés ideológico, e, ainda que o fosse, seria legítimo, desde que fosse garantido o mesmo tratamento para todos os outros”


Por Marcos Louzada, Servidor público federal

27/07/2021 às 08h22

Juiz de Fora voltou ao noticiário nacional após a polêmica decisão da Justiça que deferiu uma liminar para que a exposição de fotografias “Democracia em disputa” fosse retirada da fachada do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM), no Centro de Juiz de Fora (MG). Segundo o vereador Sargento Mello, que propôs a ação, a liminar é uma vitória, pois garante ao espaço público o uso de maneira isenta, correta e em prol da população.

A exposição em questão mostra fotos que retratam as lutas políticas, desde a redemocratização até o movimento pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Esse valoroso registro, fruto da liberdade de imprensa, só é possível num estado democrático de direito. O trabalho reproduz como a ação dos movimentos sociais, de diversas matizes ideológicas, direita e esquerda, conservadores e progressistas, se movimentou em nossa história, para a construção de um governo democrático. Não se trata, portanto, de uma exposição de fotos de um partido ou de um determinado viés ideológico, e, ainda que o fosse, seria legítimo, desde que fosse garantido o mesmo tratamento para todos os outros.

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Se, então, a exposição não tem o alegado viés político-partidário, o que poderia estar revoltando o parlamentar, a ponto de motivá-lo a uma ação judicial? Difícil de entender, ainda mais de responder.

Talvez seja porque a exposição retrata a luta pela liberdade, que só é possível num país livre e democrático. Nesse ponto, realmente, a exposição foi incisiva. Ela mostra o movimento suprapartidário do povo juiz-forano lutando para pôr fim à ditadura no Brasil e, da mesma forma, como as ruas se comportam diante de um governo democrático. De repente, quem defende a ditadura, a opressão do regime militar, a tortura e a censura pode se sentir ofendido quando a liberdade e a democracia são reverenciadas. Será que é isso?

Enfim, inspirado na fala desse vereador, que acredita que é necessário preservar o espaço público da influência ideológica, proponho que a Câmara, assim como já ocorreu em vários outros municípios brasileiros, retire o nome do ditador Presidente Costa e Silva da principal avenida do Bairro São Pedro. Isso, sim, é defender a nossa sociedade da nefasta influência de quem defende uma ditadura. Embora existam diversos notórios cidadãos merecedores dessa homenagem, sugiro um nome para essa avenida que realmente representa o precisamos nesse momento: Avenida Liberdade.

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