Flamengo e Renato são uma simbiose megalomaníaca

Não haverá meio-termo na primeira passagem do técnico pelo Rubro-negro, até porque a racionalidade é intolerável para megalomaníacos


Por Gabriel Ferreira Borges

20/07/2021 às 07h00

Renato Portaluppi inevitavelmente treinaria o Flamengo. Apenas não se sabia por que somente agora. Renato, assim como qualquer rubro-negro, é um fanfarrão. Uma espécie de presunçoso caricato de tão eufórico. A realidade é um mero detalhe porque nem tudo se dá exatamente neste plano. Por isso, o retorno de Renato ao Flamengo é uma simbiose megalomaníaca. Ainda que o trabalho do técnico à frente do Grêmio tenha sido vitorioso, Renato Portaluppi é uma aposta metafísica. Diante da iminente ruptura brusca com Rogério Ceni, Renato é uma busca por uma reconciliação entre o Flamengo e o que é ser Flamengo.

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Renato Portaluppi é uma aposta metafísica do Flamengo (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo/Divulgação)

É verdade que boa parte dos rubro-negros era resistente à contratação de Renato. E não faltavam argumentos extremamente lógicos – outros, igualmente legítimos, nem tanto. Só que talvez, em última instância, a rejeição era paradoxalmente por Renato ser a imagem e semelhança do rubro-negro. De tão parecidos, soava como loucura imaginá-los juntos. E eventualmente pareceria inexplicável torcer o nariz para o óbvio. Mas é que, enquanto jogador, Renato transita no imaginário rubro-negro entre o amor e o ódio. Entre o gol contra o Atlético pela semifinal do Brasileiro de 1987 e aquele outro contra o Flamengo, pelo Fluminense na final do Carioca de 1995.

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Não há meio-termo no imaginário rubro-negro, até porque a racionalidade é intolerável para megalomaníacos. E, por isso, não haverá meio-termo na nova passagem de Renato pelo Flamengo, agora como treinador. A estreia contra o Defensa y Justicia, em Florencio Varela, foi simplesmente miserável. Já o jogo contra o Bahia em Pituaçu, monumental. Não por acaso o humor rubro-negro oscila justamente entre esses dois estados de espírito. O único agravante é que Renato não tem problema algum com isso. Mas São Judas Tadeu é o santo das causas desesperadas.

Flamengo e Renato são um acontecimento que bastaria por si só. Até por isso as expectativas não estão tão claras, ao contrário das circunstâncias. Os rubro-negros, por exemplo, vivem às sombras de Jorge Jesus. Tanto é que Rogério Ceni aparenta ser apenas um asterisco na conquista do bicampeonato brasileiro. Renato, por sua vez, vive às sombras do Grêmio campeão da Copa do Brasil e da Libertadores da América. Flamengo e Renato são um encontro apaixonadamente inconsequente.

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