‘A Guerra do Amanhã’: Poderia ser ótimo, mas…

Ficção científica estrelada por Chris Pratt mostra humanidade tendo que viajar para o futuro a fim de evitar sua extinção após ataque alien


Por Júlio Black

08/07/2021 às 07h00

Dan Forester (Chris Pratt, à frente) descobre da pior maneira que, se o presente não é lá essas coisas, o futuro é bem pior do que se pode imaginar (Foto: Divulgação)

“A Guerra do Amanhã”, ficção científica dirigida por Chris Mckay, estreou na última sexta-feira (2) no Prime Video com altas expectativas, tanto pela trama quanto pela presença do carismático Chris Pratt (o Starlord de “Guardiões da Galáxia) e do absurdo J.K. Simmons (o JJ Jameson dos filmes do Homem-Aranha), além de outros coadjuvantes que todo mundo vai se lembrar de algum lugar. Porém, o filme desperdiça a oportunidade de entregar um sci-fi daqueles não por acumular toda sorte de clichês em pouco menos de 140 minutos de duração, mas por jogá-los, quase sempre, de forma preguiçosa.

A trama do longa chega a lembrar, bem de raspão, a da série de livros “A guerra do velho”, de John Scalzi. Em 2022, a humanidade descobre graças a soldados vindos do ano de 2051 que o planeta foi invadido em 2048 por alienígenas conhecidos como garras brancas, e que depois de três anos de guerra nossa espécie está à beira da extinção, restando apenas 500 mil pessoas em todo o planeta.

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Os soldados do futuro vieram até o passado deles a fim de pedir ajuda na guerra, e logo a humanidade passa a enviar soldados que já estariam mortos em 2051 (a fim de evitar paradoxos temporais do tipo encontrar seu “eu” do futuro) para o combate. Entretanto, o número de baixas é avassalador, e por isso até mesmo civis – que estivessem mortos daqui a 30 anos – passam a ser mandados para missões de sete dias com o objetivo de tentar derrotar os aliens. É nesse grupo de civis que está Dan Forester (Pratt), que participou de missões militares no Iraque e atualmente é professor de biologia.

Uma história dessas poderia render um ótimo sci-fi, se pensarmos nas implicações filosóficas de se conhecer o seu futuro, e que ele não será nada bom; além disso, há o choque da descoberta aterradora e a urgência que ela envolve, pois a humanidade de hoje precisa dar um salto de fé e acreditar nas palavras de quem veio de um tempo distante. Essa urgência fica ainda mais evidente quando é preciso apelar para civis que são enviados para 2051 apenas com a roupa do corpo e uma metralhadora nas mãos, após uma semana de treinamento absurdamente básico – isso quando há tempo para se prepararem. E o filme segue ainda como uma ótima promessa até o momento em que o grupo do qual Forester faz parte chega ao futuro e se percebe que ninguém estava preparado para o que teriam de enfrentar.

Eu vejo o futuro repetir o passado

Pois é a partir desse momento que “A Guerra do Amanhã” começa a derrapar, e até os defeitos que ainda não haviam sido notados se tornam evidentes. O filme se perde em tramas episódicas e imediatamente esquecidas; tentativas fracassadas de humor; clichês de filmes de ação e de guerra que poderiam render um “Tropa estelares 2.0”, mas que são pessimamente aproveitadas; arcos dramáticos que não convencem; e a necessidade de Dan Forester ser o cara que precisa estar em todas as missões.

Para piorar, o roteiro de Zach Dean é mais um a se escorar no preguiçoso recurso do “fator humano” visto tantas vezes em filmes-catástrofe, reduzindo uma tragédia global aos conflitos familiares do protagonista – incluindo aí a péssima relação com o pai (Simmons), que aparece no filme unicamente para servir como uma “arma de Chekhov”, assim como outro personagem que aparece de raspão no início do filme e do nada é importantíssimo no final.

Apesar de todos esses problemas, “A Guerra do Amanhã” ainda poderia ser um filme-pipoca divertido – ainda que esquecível -, pois as cenas de batalha convencem; os efeitos especiais são de primeira; os alienígenas colocam medo a ponto de apertar o braço do sofá; a história tem um ponto de partida interessante; e temos civis sem experiência militar encarando alienígenas genocidas. E como disse um amigo que também assistiu ao filme, o longa deixa claro três mensagens que valem para os dias atuais: livre arbítrio; acabem com o aquecimento global; e invistam em pesquisa científica.

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Essas qualidades poderiam fazer o público ignorar os defeitos e deixar o filme com uma nota sete, porém os últimos 30 minutos são um verdadeiro insulto à nossa inteligência – não por acaso, quando as desnecessárias “armas de Chekhov” são colocadas na mesa. Aí não tem jeito: é nota quatro no meio da testa.

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