Dez anos sem Itamar

Ex-presidente morreu quando estava na sua terceira passagem pelo Senado Federal. O cuidado com a coisa pública foi a marca nas três instâncias executivas que ocupou


Por Tribuna

02/07/2021 às 07h00

Uma transmissão ao vivo pelo YouTube, nesta sexta-feira, promovida pelo instituto que leva o seu nome, vai lembrar a morte do ex-presidente Itamar Franco, ocorrida no dia 2 de julho de 2011. A morte é a conclusão de um projeto deste ser aí, fruto de realizações ao curso de sua existência. O ex-presidente deixou história e exemplos que até hoje precisam ser lembrados para a qualificação da própria vida política.

Num momento em que a CPI da pandemia começa a desvendar segredos do processo de compras de vacina, com o envolvimento de atores instalados dentro do próprio Governo, o ex-presidente deveria ser um exemplo a ser seguido. A qualquer indício, afastava o suspeito, garantindo-lhe o pleno direito de defesa, para, só a partir daí, tomar decisões. Inaugurou um modelo de gestão que se perdeu ao curso do tempo, bastando ver os muitos escândalos que permearam os mandatos seguintes sem que houvesse, por parte do próprio Governo, as devidas correções.

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Itamar faz falta neste momento. O Senado, no qual militou por três mandatos incompletos, hoje é uma casa em que a CPI tornou-se palco de desavenças e cenas impróprias para o processo democrático. No seu terceiro mandato, depois de passar pela Presidência e pelo Governo de Minas, suas falas eram acompanhadas com atenção e em silêncio. A casa parava para ouvi-lo, bem diferente dos tempos atuais, nos quais os bate-bocas são uma constante, incrementados pela ânsia de visibilidade e protagonismo, proporcionados pelas redes sociais e pelas redes de TV.

Itamar faz falta pela capacidade de ver adiante de seu tempo. Quando assumiu o primeiro mandato, fez um intenso programa de infraestrutura para a cidade e viu no saneamento básico um processo inevitável para garantir um futuro sem riscos. No Governo de Minas, serenou ânimos de uma PM em convulsão após a gestão Azeredo e impediu a entrega da Cemig a um grupo de estrangeiros sem garantias mínimas. Na sua gestão, a companhia funcionou. Hoje, ela volta à pauta da privatização por conta da ineficiência dos sucessores.

Num momento em que a democracia é vista como uma mercadoria perecível, num processo de radicalização que beira o irracional, Itamar faz falta, pois foi forjado num tempo em que o país reagia à intolerância. Obteve o primeiro mandato no Congresso, em 1974, quando o MDB elegeu sua maior bancada no Senado Federal. Estava acompanhado de nomes como Paulo Brossard, do Rio Grande do Sul; Franco Montoro, de São Paulo, e Saturnino Braga, do Rio de Janeiro. Foi a maior safra de resistentes.

O mundo é outro, e o país, também, mas lembrar a trajetória do ex-presidente deve ser um exercício permanente pelo seu legado. A política precisa ser modernizada, é fato, pois é próprio da história, mas os valores devem ser preservados, sobretudo quando têm como base a ética e o zelo com a “res publica”.

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