Gás de cozinha sobe 22% em um ano e custa até R$ 95 em JF
Alta é a maior observada de um ano para outra na cidade desde 2002
Desde segunda-feira (14), o gás liquefeito de petróleo (GLP) – ou gás de cozinha – está 5,9% mais caro nas refinarias. A alta, que representa aumento médio de R$ 0,19 por quilo, foi anunciada pela Petrobras na última quinta-feira e já reflete em aumento sensível nas distribuidoras de Juiz de Fora. Em consulta realizada pela reportagem da Tribuna em 12 estabelecimentos da cidade nesta terça, o valor do botijão de 13 quilos variou entre R$ 70 e R$ 95, a depender da marca, sem a taxa de entrega. O preço médio observado nestes locais foi de R$ 81,15, considerando a marca mais barata.
O preço médio nas distribuidoras da cidade nesta terça-feira é 22,1% maior do que aquele observado em junho do ano passado. Conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do gás de cozinha verificado na cidade há um ano era de R$ 66,48. Ou seja: de um ano para o outro, o aumento no preço médio do botijão foi de R$ 14,67.
A alta de 22,1% no período é o maior aumento registrado no preço do botijão em 19 anos, quando avaliada a variação do custo do produto de um ano para outro. Considerando a série histórica da ANP, a única vez em que o percentual de aumento do gás de cozinha ficou acima da baliza observada atualmente foi entre 2001 e 2002. Na ocasião, o preço do gás de cozinha disparou e passou de R$ 19,47 em julho de 2001 para R$ 25,67 em junho de 2002, aumento de 31,8%. Neste caso, foi considerado um período de onze meses, pois os dados da ANP sobre os preços em Juiz de Fora, em 2001, só retroagem até julho, não disponibilizando informações sobre o mês de junho daquele ano.
Neste período, entre 2001 e 2002, o preço do gás liquefeito de petróleo sofreu uma grande pressão inflacionária após a retirada do subsídio aos preços do produto. À época, em contrapartida, foi instituído, por meio do Decreto 4.102, de 24 de janeiro de 2002, o programa “Auxílio-Gás” às famílias de baixa renda. Dessa forma, a variação do preço do botijão na cidade seguiu a tendência observada em todo o país.
Entre 2002 e 2020, em nenhuma ocasião, o aumento no valor do botijão de gás de cozinha superou a barreira de 20% de um ano para outro. Em anos recentes, inclusive, foi observada até mesmo deflação nos valores de mercado observados em Juiz de Fora no preço médio do botijão, conforme dados da ANP. Isso aconteceu em duas oportunidades: entre junho de 2018 e junho de 2019; e entre junho de 2019 e junho de 2020.
Botijão foi reajustado quatro vezes em 2021
Os aumentos nas refinarias do país se tornaram comuns este ano. Em janeiro, a Petrobras anunciou aumento do preço em 6%. No mês seguinte, uma nova alta de 5,1% foi observada. Em meados de março, ocorreu um novo reajuste médio de R$ 0,15 por quilo e, por fim, em abril, a alta foi de 5%.
No mês de maio, levantamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP) encontrou o gás de cozinha em Juiz de Fora com preço de até R$ 92. Nas últimas quatro semanas, o custo máximo havia se estabilizado entre R$ 89 e R$ 89,90, segundo a mesma pesquisa. O impacto mais recente do aumento nas refinarias será contabilizado pela ANP apenas na próxima sondagem, correspondente à semana compreendida entre o último domingo (13) e o próximo sábado (19).
Na média de valor dos últimos meses, é possível observar aumentos consecutivos entre janeiro e abril deste ano. No primeiro mês de 2021, o valor médio do GLP em Juiz de Fora era de R$ 73,75; já no quarto mês, o custo havia saltado para R$ 79,61, crescimento de quase 8%, que foi seguido de queda moderada, com valor médio de R$ 78,67 na primeira quinzena de junho.
Aumentando o espectro de comparação, a situação se mostra mais dramática: em junho de 2020, o custo médio do gás de cozinha era de R$ 66,48. Ou seja, 22,1% de aumento no valor ante o valor apurado pela Tribuna. A critério de observação, o percentual de majoração do GLP é, pelo menos, quatro vezes maior do que o aumento do salário mínimo deste ano em relação ao anterior: 5,26%, com o acréscimo de R$ 55 ante os R$ 1.045 de 2020 e os R$ 1.100 do mínimo vigente atualmente.
Alta é superior a do IPCA acumulado nas duas últimas décadas
De acordo com dados da ANP, o preço médio do botijão de gás cozinha em Juiz de Fora era de R$ 19,47, em julho de 2001, há 20 anos, portanto. Com base em consulta feita na Calculadora do Cidadão, ferramenta mantida pelo Banco Central do Brasil, tais valores atualizados, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), corresponderia a R$ 64,48 em maio deste ano. Ou seja, 20,5% abaixo do preço médio de R$ 81,15 observado pela Tribuna nesta terça-feira.
Quando observada a relação entre o valor do salário mínimo, hoje definido em R$ 1,1 mil e o preço médio do botijão de GLP em Juiz de Fora, a compra de uma unidade do produto consome 7,4% do mínimo. Este é o maior percentual observado nesta relação dos últimos dez anos. Ou seja, o impacto do gás de cozinha no bolso da população é o maior desde 2011.
Valorização do dólar gera impacto, diz economista
A valorização do dólar frente ao Real, com cada unidade da moeda americana flutuando sempre acima de R$ 5 desde março de 2020, é o fator apontado pelo economista Fernando Perobelli como principal vilão na alta do gás de cozinha. Isso ocorre porque o GLP é um derivado do petróleo e o barril do combustível fóssil é comercializado em dólar, de modo que qualquer reajuste no preço da substância, por menor que seja na moeda americana, vai ter um grande efeito no valor quando convertido para a moeda brasileira.
“Esse é um grande problema, hoje, em relação a produtos derivados de petróleo no Brasil, porque nós não somos autossuficientes na produção de alguns derivados de petróleo. E gás de cozinha é um deles. Então, a gente fica muito suscetível ao câmbio”, explica Perobelli. Como parte da economia mundial aponta para uma tendência de crescimento, o cenário está colocado para o aumento no valor do barril de petróleo e o consequente salto no valor dos derivados em território brasileiro.
No último mês de março, o Governo federal optou por zerar as alíquotas de PIS e Cofins sobre o óleo diesel e sobre o gás de cozinha. Na visão do economista, o que poderia representar uma diminuição no custo do produto pode ter sido convertido em aumento na margem de lucro das distribuidoras, que era menor. “Essa ‘zeragem’ pode não chegar ao consumidor, porque não é obrigado a chegar no consumidor e também porque, se a gente imaginar que a margem de lucro das distribuidoras estava represada, elas vão aproveitar e transformar a diminuição da alíquota em margem de lucro”, argumenta.
Dada a dependência do Brasil em relação aos produtos derivados do petróleo do exterior e a falta de perspectiva quanto a uma apreciação do Real, não é prevista uma diminuição no custo do GLP para o curto prazo, segundo o especialista. Como consequência, sobretudo a população que tem renda de um salário mínimo ou menos, piora o cenário de aperto. “Eu não posso deixar de pagar a luz ou de comprar o gás, então eu vou diminuir o consumo de outros bens. Com isso, temos um efeito encadeado no setor comercial, por exemplo, naqueles bens que não são essenciais para a subsistência do indivíduo”, afirma Perobelli. “Nós criamos dois cenários: o aumento da restrição orçamentária do indivíduo e o impacto na economia, porque esses indivíduos vão parar de consumir outros bens”, conclui.
Bares e restaurantes lamentam aumento
O crescimento no valor do gás de cozinha gera prejuízos aos empresários que dependem do produto para a subsistência do negócio. De acordo com a Regional Zona da Mata da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o aumento nos preços do GLP impactou fortemente o setor “uma vez que o empresário tem tentado ao máximo não repassar esse aumento para o consumidor final”, avalia a presidente da entidade, Francele Galil.
A representante da categoria ainda lembrou o aumento em cadeia de outros insumos que são insubstituíveis para as empresas do setor. “Está muito difícil, uma vez que o aumento não fica somente no gás, mas nos insumos em geral, o que culminou em um reajuste nos preços dos pratos”, aponta Francele.