Respeito acima de tudo

Violência aumentou durante a pandemia apontando a necessidade de ações mais claras e duras contra os agressores


Por Tribuna

09/06/2021 às 07h00

Cerca de 17 milhões de mulheres foram vítimas de violência física, psicológica ou sexual ao longo do último ano, de acordo com dados da terceira edição da pesquisa “Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Datafolha. Isso significa que uma em cada quatro brasileiras com mais de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência. A pesquisa aponta, ainda, que 45% dessas vítimas não fizeram nada sobre a agressão sofrida, enquanto um terço alegou ter resolvido a situação por conta própria – sem tecer detalhes dessa conta própria.

A pandemia, que deixou a população em confinamento, apresentou esse novo dado perverso. Na convivência, muitas vezes em espaço precário, os impasses se tornaram mais intensos, embora nada justifique tais atitudes, sobretudo quando as vítimas, em sua maioria, não têm meios para se defender ou abrigo para fugir do agressor. Talvez isso explique o motivo de 45% das vítimas não terem, sequer, relatado a agressão.

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Essas vítimas em silêncio fazem parte de um expressivo contingente que subnotifica as ocorrências. A pesquisa, nesse aspecto, revela um dado que as autoridades, de certo, já conhecem: o número de vítimas é bem maior do que os relatos contidos nos inquéritos policiais. E não é só a falta de opções que leva essas mulheres a ficar em silêncio. Uma parcela fica destroçada psicologicamente e sequer sabe o que fazer, ainda mais quando não conta com o respaldo da família.

Vergonha, medo e até conveniência acentuam o problema que se tornou uma questão extremamente grave. A legislação, é fato, melhorou as ações de enfrentamento. Em Minas, por exemplo, os síndicos de condomínios residenciais são obrigados a notificar à polícia os casos de agressão contra mulheres, crianças, idosos e incapazes, algo antes rejeitado. O próprio conceito de ação mudou. Em briga de marido e mulher se mete a colher. Trata-se de uma ação clara contra a omissão. Durante tempos, o que ocorria nos lares era problema único e exclusivo do casal. Não é mais, sobretudo quando o diálogo é substituído pela intolerância.

A violência contra a mulher aumentou com a pandemia, mas não é de hoje que os números estão crescendo, também em razão da mudança de comportamento das próprias vítimas, que estão saindo do silêncio e denunciando os agressores. Mesmo assim, 45% ainda não chegaram a esse patamar de reação.

A sociedade tem que compreender que a violência é um mal endêmico e de amplo alcance, indo além da vítima direta. Lares são desconstituídos, crianças ficam órfãs e até mesmo os serviços públicos são comprometidos por essa demanda. Mais do que isso, porém, está o próprio viés humano. Respeito é bom e é de uso.

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