Pontos extremos

A polarização política passa, agora, pelos bastidores do futebol, algo impensável há algum tempo, mas possível como os próprios fatos ora demonstram


Por Tribuna

08/06/2021 às 07h00

Quando a política se misturou à pandemia, a situação se agravou no país em razão de discussões sobre a eficácia, ou não, das vacinas, atrasando o processo de imunização. Agora, ante as evidências que se revelam de forma perturbadora nos mais de 450 mil mortos, o discurso de imunização em massa até o fim do ano tornou-se mais próximo do consenso, embora ainda haja os que rejeitem e outros que simplesmente desconhecem a sua importância. O Brasil tem um expressivo número de pessoas que não retornaram para a segunda dose, algo grave, pois a primeira não garante a plena imunização.

A política também passou pelos bastidores das Forças Armadas, quando se discutiu profundamente a situação do general Pazuello, por conta de denúncias de ter ferido o Regulamento Disciplinar, ao participar de um evento ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Saiu ileso, mas as discussões permanecem, como também ocorrem na CPI da pandemia, na qual os discursos, na maioria das vezes, são menos preocupados com os efeitos da doença e mais com a eleição do ano que vem. Vários senadores não escondem sua intenção de disputar o Governo de seus estados e fazem da CPI um palanque e outros já antecipam veredicto antes mesmo de terminar a investigação.

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O fato mais recente envolve o futebol. A decisão da CBF de acolher pleito da Conmebol e fazer do Brasil sede, de novo, da Copa América, com o aval do Governo federal, foi o estopim, pois a consulta se esgotou nesses atores sem envolver federações, jogadores ou até mesmo governadores. Ensaiou-se um boicote, mas os atletas, em razão de um novo escândalo, desta vez envolvendo o presidente da CBF, Rogério Caboclo, afastado sob a suspeita de assédio sexual a uma funcionária da Confederação, decidiram jogar a competição.

As circunstâncias, no entanto, só devem ser conhecidas nesta terça-feira, após o jogo da Seleção Brasileira contra o Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo. O técnico Tite e os jogadores devem fazer um pronunciamento revelando os bastidores de um processo interno de grande desconforto.

Mas a política não ficou aí. A informação de que o presidente da CBF iria trocar Tite – demissível ad nutum – causou constrangimento no elenco, pois a decisão teria sido comunicada ao Planalto, que não goza da simpatia do treinador, antes de ser dada aos jogadores. Seu substituto seria Renato Gaúcho, ex-técnico do Grêmio, simpático ao presidente Jair Bolsonaro. Se há procedência, tudo pode ser definido hoje, embora Rogério Caboclo tenha dito que volta à presidência, da qual está afastado preventivamente, e que conta com Tite para a busca do hexa.

Em 1970, o técnico da Seleção Brasileira, que ganhou o Tricampeonato, foi demitido por razões políticas. O jornalista João Saldanha era um crítico contumaz do regime e caiu às vésperas da competição, sendo substituído por Mário Jorge Lobo Zagalo, que ganhou o título.

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