Há 30 anos, Tupi vencia o Botafogo por 2 a 1

Botafoguense Claudinho, então ponta do Tupi no jogo festivo, se emocionou ao marcar os dois gols do Carijó em seu clube de coração


Por Bruno Kaehler

30/05/2021 às 07h00

De um lado, Cláudio; Evaldo, Paulinho, Rildo e Luiz Cláudio (Derson); Waltencir, Serginho e Osmar Bueno; Roninho (Ronaldo Machado), Luisão (Claudinho) e Bebeto. No comando técnico, o estreante Zé Carlos. Já pelo visitante, que já possuía uma das principais torcidas da época em Juiz de Fora, a escalação trazia outros nomes inesquecíveis, com Ricardo Cruz; Wanderlei, André, De Leon e Jéferson; Carlos Alberto (Bujica), Pingo e Juninho; Vivinho, Valdeir e Pichetti. Gil era o treinador. No dia 31 de maio de 1991, Tupi e Botafogo faziam jogo festivo no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, evento que ficaria guardado na história da cidade, em comemoração aos aniversários tanto do Galo Carijó, então com 79 anos, quanto do município, à época com 141.

O Alvinegro de Santa Terezinha, em atuação com camisas brancas, venceu o Glorioso, de manto listrado em preto e branco, por 2 a 1. A partida também marcou a despedida do lendário zagueiro Hugo De Leon do clube carioca. Bujica abriu o marcador para o Botafogo, com o atacante Claudinho balançando as redes em duas oportunidades na virada juiz-forana, rendendo ao clube a Taça da Cidade de Juiz de Fora, concorrida naquele embate presenciado por 2.729 pagantes – número que, jogadores em campo na ocasião, asseguram ser menor que a presença real de torcedores nas arquibancadas do principal palco esportivo local.

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Estádio Municipal recebeu público modesto pagante, de 2.729 pessoas conforme registros da Tribuna (Foto: Cerezo/Arquivo TM)

Preparação para o Mineiro diante do bicampeão carioca

Após má campanha na Copa Minas, o Tupi, presidido então por João Pires, trazia o ex-jogador Zé Carlos para a função de treinador e tinha no duelo contra o Botafogo, além do caráter festivo, um desafio na preparação para a disputa do Campeonato Mineiro. O Glorioso, por sua vez, vinha dos títulos cariocas de 1989 e 1990, com um grupo que ainda possuía, entre os destaques, o atacante Renato Gaúcho, não utilizado na partida em Juiz de Fora, mas de participação importante no vice-campeonato brasileiro em 1992.

“O Botafogo tinha jogadores que, na época, eram muito conhecidos. O De Leon jogou Copa do Mundo (campeão mundial pelo Grêmio), tinha o Carlos Alberto Santos, Pingo, Vivinho, Bujica, atletas de muita repercussão até mundial. E o nosso time era de maioria jovem, à exceção do Cláudio, do Evaldo e do Luisão de experientes. E estávamos com uma expectativa muito grande de jogar, ainda tinha a estreia do Zé Carlos como treinador”, recorda Claudinho, que viria a ser o protagonista do duelo.

O então goleiro carijó Cláudio, hoje administrador do Estádio Municipal, reiterou o planejamento do clube para o Estadual. “Lembro que em 1991 o Tupi se organizou muito. Não pagava grandes quantias, mas era muito organizado na parte da contabilidade e cumpria com as obrigações com a gente em dia. Por muito pouco não chegamos ao hexagonal final do Campeonato Mineiro. Naquele ano eram três grupos, o Tupi caiu no do América e venceu eles fora de casa, sendo que tinham um timaço”, recorda Cláudio. Naquele Mineiro, o Tupi ficaria em terceiro, uma posição abaixo da classificação à fase seguinte e do próprio Coelho, com uma diferença de 18 para 16 pontos.

Cláudio relembra, ainda, que a equipe formada pelo clube possuía maioria identificada com o Tupi ou com a cidade. “Era um grupo com muitos jogadores revelados na base. O João Pires assumiu a presidência, conseguiu apoio de um hotel e, como o clube tinha fama de pagar em dia, muitos atletas queriam vir jogar lá”, conta, antes de voltar a falar do elenco. “O Tupi tinha um jogador diferenciado que era o Serginho. Hoje, com certeza, ele jogaria em grandes clubes da Europa. Chegou a ir pra fora, mas não atuou em um grande time. Além da molecada que subiu, como o Luiz Cláudio, Waltencir. Era um ambiente muito bom, uma turma muito unida, de mescla entre alguns veteranos com essa juventude.

Depois o Zé Carlos até recebeu proposta do mundo árabe e chegou o Aristeu Rezende, um treinador com quem me identifiquei muito. Nesse ano, inclusive, eu ganhei o prêmio de destaque esportivo da Tribuna”, destaca o ex-arqueiro.

Da polêmica à emoção do botafoguense Claudinho

“Claudinho acaba com a festa do Botafogo” era a manchete do caderno de esportes da então Tribuna da Tarde, na edição de 31 de maio de 1991. “Foi tudo diferente naquela época antes do jogo. Como eu já era torcedor do Botafogo, na época o Márcio Guerra (jornalista) trabalhava em um dos jornais. E ele, como botafoguense também, fez uma página inteira de reportagem comigo. Dei uma entrevista até polêmica falando do Renato Gaúcho, que veio pro Botafogo. Disse que ele era um daqueles jogadores que jogavam muito, criavam uma estabilidade, mas depois se acomodavam”, lembra o atacante Claudinho.

“Aquela entrevista foi bem legal e repercutiu muito na época. Mas era um sonho poder jogar com o Botafogo”, conta o então ponta do Tupi, que foi vítima de brincadeiras durante a semana por atuar contra seu clube de coração. “Lembro que o Luisão ficava brincando a respeito disso, o grupo todo participava porque eu era bem aceito”, pontua.

Com o apito inicial, Claudinho via grandes jogadores de seu time de coração em campo, enquanto também buscava fazer suas próprias análises do jogo no 0 a 0 inalterado até o intervalo. “A gente ficava imaginando se um dia conseguiria jogar naquele nível, porque realmente eram jogadores de uma qualidade a mais. Mas quando você está no banco, consegue ver o lado mais deficiente da equipe adversária. E entrei justamente pelo lado esquerdo deles.”

Com o segundo tempo, Bujica, pelo Botafogo, e Claudinho, no Galo, entraram. O atleta do Glorioso abriu o placar aos 6 minutos. Nada que abalasse, pela sequência da partida, a parte anímica do time juiz-forano. Aos 21, como relata matéria da Tribuna da Tarde, veio “uma jogada feita por Bebeto, que cruzou da direita, para Osmar Bueno tocar de cabeça. A bola foi fraca, mas Ricardo Cruz soltou e Claudinho conferiu. Emocionado, o ponta do Tupi chorou.” Lance de oportunismo de um ponta, conforme o autor do tento descreveu. “Saí comemorando sem acreditar.”

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O duelo passou a ter mais faltas e Evaldo, do Tupi, e Bujica, autor do tento botafoguense, foram expulsos. Quando o empate parecia certo, Claudinho reapareceu. “No segundo gol eu estava com mais confiança. Fui caminhando em velocidade para entrar na área, driblei o Wanderley com uma caneta, passei pelo De Leon e dei de bico na bola, na saída do Ricardo.” Um golaço, comemorado com mais choro pelo protagonista, o que também ficou marcado, como contou Cláudio.

“A maior lembrança que eu tenho desse jogo é do próprio Claudinho, botafoguense que chorava muito depois dos gols e não sabíamos se era de tristeza ou de alegria!”, conta Cláudio, sorrindo. E Claudinho esclareceu. “Foi de felicidade mesmo. Esses dois gols fizeram até o Botafogo se interessar em mim. Tenho até um documento guardado em que colocaram meu passe pro exterior num valor absurdo.”

Jogo foi marcado por fortes disputas em campo com as expulsões de Evaldo e Bujica na etapa final (Foto: Cerezo/Arquivo TM)

Aquela atuação, inclusive, repercutiu nacionalmente, sendo lembrada até hoje. “Jamais pensava em fazer dois gols e daquele jeito. Passaram em todos os programas a nível municipal e nacional. As pessoas passaram a me ver com outros olhos. Todos lembravam disso quando me viam. Não tenho mais tanto contato com as pessoas que viveram aquela época, mas quando as reencontro é o que lembram. E depois eu fui jogar em São Paulo, acabei sofrendo um acidente e tive que parar, voltando só pra jogar várzea em Juiz de Fora, e sempre recordavam. Diziam, quando meu filho Guilherme começou a me acompanhar nos jogos, que ele tinha que jogar que nem eu. Mas ele já diz que joga muito mais, e é verdade.”

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