Política em curso
Observação do prefeito de Belo Horizonte, questionando a antecipação do processo eleitoral, é pertinente, mas nada garante que ele, ao seu estilo, também já pense no pleito de 2022
Ao participar de uma live com representantes da UFJF, quando da assinatura de acordo para financiar a produção de vacinas, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, voltou a exercer o seu estilo descolado de fazer política, não medindo palavras para apresentar suas posições. No seu entendimento, só quem for “débil mental” está pensando em eleições em meio a uma pandemia que já matou mais de 450 mil pessoas. Colocado na lista de possíveis candidatos ao Governo de Minas – o que não o afasta do rol dos citados para a Presidência -, ele destaca que só com realizações e trabalho será possível avançar no processo de combate à doença.
Kalil questiona os políticos, mas nada o afasta de tal meio, e seu discurso dá margem para interpretação de também ter um viés político, pois foi com esse estilo que conseguiu 64% da preferência dos eleitores da capital. Ele tem razão em parte ao advertir não ser esse momento, mas sabe que o modelo brasileiro, ao permitir a reeleição, deu margem ao processo de se pensar na reeleição um dia após a posse. O primeiro mandato é praticamente voltado para o segundo, embora nada assegure que esse seja melhor do que o primeiro.
Em recente entrevista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que, se fosse hoje, ele teria sido contra a reeleição, apesar de ter sido o patrocinador para a renovação do mandato. Eleito com a força do Real, usou tal instrumento e a promessa de novas mudanças para garantir mais quatro anos. Como já era de se esperar, a performance não foi a mesma.
Pensar na reeleição, no entanto, não fere princípios éticos, pois é do jogo e definido em lei, mas é necessário repensar o modelo por conta de sua ineficácia e das consequências que traz para a vida política. Num regime de coalizão, no qual há mútua dependência entre os poderes Executivo e Legislativo, o balcão de negócios ganha ênfase, numa troca de favores que nem sempre ocorre sob o olhar republicano. Os últimos escândalos da República tiveram estes acordos como matriz: o Executivo, com seu poder de agenda, pedindo votos para aprovar suas matérias; e os partidos, com seu poder de articulação, barganhando cargos no poder ou emendas para agradar seus redutos.
Faltando mais de um ano para as eleições, o cenário já tem nítido viés eleitoral tanto nas instâncias de governo quanto fora delas. Governistas e oposição já puseram o bloco na rua a despeito da pandemia e vão continuar jogando suas fichas até o derradeiro dia das eleições.