Um grito de socorro

“De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 648 casos de feminicídio aconteceram no país no 1° semestre de 2020, um aumento de 2% em relação a 2019”


Por Gabrielle Silva do Carmo, graduanda em Jornalismo/Estácio JF

27/05/2021 às 07h00

Sempre que vejo uma publicação de cunho feminista nas redes sociais, tenho a certeza de que, quando abrir os comentários, verei, no mínimo, uma crítica escrita por um homem menosprezando a causa e o que foi publicado. Mas por que se incomodam tanto com isso?

Alguns deles até mesmo dizem que é por conta da generalização, mas, em uma publicação sobre o aumento do número de casos de feminicídio no país durante a pandemia, é impossível não notar a quantidade de comentários vindos de homens falando sobre as mortes do seu gênero, como se ambos os gêneros estivessem passando pela mesma situação. O mesmo acontece quando as publicações são relacionadas a estupros e violência doméstica: “Homens também podem ser violentados”, eles dizem, mas as coisas são realmente assim?

PUBLICIDADE

Dados divulgados em 2019 pelo Atlas da Violência mostram que os homens são as maiores vítimas de assassinatos no país, mas, quando as informações são comparadas com a realidade das mulheres, os motivos dessas mortes têm causas diferentes. 39,2% das mortes femininas acontecem em casa, contra 15,9% dos homens, sendo o maior local de incidência para eles as ruas ou estradas (68,2%).

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 648 casos de feminicídio aconteceram no país no 1° semestre de 2020, um aumento de 2% em relação a 2019, em um momento em que muitas das vítimas estavam presas em casa com seus companheiros em razão da pandemia. Por isso, os números de registros feitos nas delegacias também caíram 9,9%. Enquanto isso, os chamados de emergência subiram 3,8%, totalizando 147,4 mil ligações.

Não é que as mortes masculinas sejam menos importantes, mas as causas costumam ser muito adversas, e poucas são relacionadas à violência doméstica. Diferentemente das mulheres, eles raramente morrem apenas por serem homens. O problema é real e cada vez mais presente no cotidiano, isso pelo fato de agora ser mais divulgado, e assim acaba encorajando muitas a darem um basta na situação e denunciarem.

O mais triste é também ver mulheres fazendo comentários um tanto machistas e desmerecedores sobre a situação, questionando a vítima. Ninguém sabe exatamente o que acontece dentro de uma casa. A violência não é apenas física, mas também psicológica, e pode ser causada justamente por um familiar ou aquela pessoa que você escolheu como companheira de vida.

O feminismo não surgiu com o interesse de a mulher se colocar acima do homem, mas, sim, do desejo dela em ser livre para fazer suas próprias escolhas, ser quem quiser e se igualar a ele em situações tão simples no seu dia a dia. A luta por seus direitos, melhores condições e respeito vem acontecendo há muito tempo, e ainda há um longo caminho a percorrer. Até quando seremos vítimas do machismo e da violência? Até quando tentarão calar a nossa voz?

Esse espaço é para a livre circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

O conteúdo continua após o anúncio

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.