“Oxigênio”: Confinada, sem memória, desorientada e quase sem ar

Claustrofóbico sci-fi de Alexandre Aja coloca protagonista presa em uma cápsula criogênica e precisando descobrir em menos de uma hora como escapar antes de morrer sufocada


Por Júlio Black

26/05/2021 às 07h00

Mélanie Laurent conta com espaço exíguo para mostrar o desespero de sua personagem (Foto: Divulgação)

A princípio, todos os gêneros cinematográficos servem para contar uma história, basta ter o diretor, roteirista, elenco e equipe técnica certos para contá-la. Porém, poucos desses gêneros servem tão bem para traçar paralelos com a nossa realidade como a ficção científica – e este é o caso de “Oxigênio”, produção francesa que entrou no catálogo da Netflix no último dia 12.

O longa dirigido pelo francês Alexandre Aja (“Predadores assassinos”) tem como pilar principal o sci-fi, mas também trafega pelo suspense e terror para refletir sobre uma das situações mais aterrorizantes para o ser humano: o confinamento involuntário e claustrofóbico, potencializado pela desorientação espacial, a amnésia e o risco de morte iminente.

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“Oxigênio” diz a que veio logo nos segundos iniciais. A solitária protagonista, interpretada pela também francesa Mélanie Laurent (a Shosanna de “Bastardos inglórios”), acorda no interior de uma cápsula criogênica sem saber o próprio nome, onde está e como foi parar lá. Para piorar, um mau funcionamento do dispositivo reduziu as reservas de oxigênio a 35% (o que dá à “paciente”, no máximo, 70 minutos antes de morrer sufocada), e a inteligência artificial que controla a cápsula, MILO (voz de Mathieu Amarilc), diz que ela só pode ser aberta com uma senha que a protagonista obviamente não sabe qual é.

Desorientada, sem poder sair e com pouco oxigênio, cabe à protagonista tentar controlar os nervos enquanto tenta descobrir o que aconteceu e como escapar do confinamento. Aos poucos, graças ao acesso à (pouca) informação possibilitado pela inteligência artificial, ela começa a coletar fragmentos de sua memória, capazes de ajudá-la a entender como foi parar na cápsula criogênica. Ao mesmo tempo, algumas das informações que recebe fazem com que ela comece a duvidar da própria sanidade e do que é ou não é real, enquanto o desespero aumenta à medida que as reservas de oxigênio vão diminuindo.

Criando muito com tão pouco

Um dos elementos que fazem de “Oxigênio” um ótimo filme é o excelente roteiro de Christie LeBlanc, que consegue manter o suspense e a tensão até o final graças a revelações surpreendentes e reviravoltas que chegam na hora certa. Se em determinado momento a protagonista tem acesso a mais uma informação que pode ajudá-la a entender o que aconteceu e como fugir do pesadelo, logo surge um novo obstáculo, e é impossível para o espectador não embarcar no desespero, terror e frustração da personagem.

O segundo destaque vai para o trabalho do diretor Alexandre Aja, que trabalha em sintonia fina com a direção de fotografia de Maxime Alexandre para entregar um clima claustrofóbico e de urgência mortal, com a câmera oferecendo vários ângulos do espaço exíguo para dimensionar a desorientação e clausura enfrentados pela personagem, em uma experiência de imersão que permite ao espectador se sentir também enclausurado.

E não se pode esquecer da excepcional atuação de Mélanie Laurent, que consegue expressar – apesar do espaço quase inexistente – os momentos de desespero, confusão, incredulidade, ansiedade e tentativa de autocontrole da protagonista, que sabe que somente assim tem chance de sobreviver a um desafio impossível de se conceber.

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