Feminismo: estamos lutando pela mesma coisa?


Por Juliana Seixas Breda, graduanda em Publicidade na Estácio JF

20/05/2021 às 07h00

O feminismo é a luta pela igualdade entre homens e mulheres. Sim, ele é. Mas será que ele tem sido um movimento que tem abarcado até mesmo as mulheres mais vulneráveis? O que mais temos visto é o feminismo sendo evidenciado a partir de uma só ótica: “A mulher ser dona de si mesma”. Apesar de o empoderamento individual fazer parte, sim, desse movimento, centralizar o significado apenas nesse único ponto pode reduzir essa luta de mais de 130 anos a quase nada.

Isso porque, embora seja muito importante que mulheres sejam financeira e emocionalmente independentes, essa ainda é uma realidade muito utópica para a maior parte delas. De nada adianta a liberdade e a igualdade pregadas pelo feminismo continuarem limitadas a mulheres brancas de classe alta se mulheres negras e pobres continuam enfrentando a violência doméstica, o racismo e condições precárias de vida e permanecem não sendo acolhidas pelo movimento.

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Cada uma dessas questões envolve problemas sociais e políticos complexos que só podem ser enfrentados com luta política contínua, dentro e fora das instituições de poder. É isso que o feminismo representa ou, pelo menos, é o que deveria representar.

Isso abre uma oportunidade de reflexão sobre o “feminismo de mercado”, que nada mais é do que usar esse discurso do “empoderamento” como fonte de lucro. O que nos garante mais uma contradição, já que estão transformando em mercadoria um movimento ligado à contestação do capitalismo. Um feminismo que não olhe para as desigualdades de classe é incapaz de transformar a vida da maior parte das mulheres.

É claro que, quando o feminismo passou a ser tratado de forma radical, oprimindo e agredindo homens e mulheres que não estavam favoráveis à sua ideologia, ele atingiu um outro ponto extremo da questão, perdendo a sua essência. E não é sobre isso que estamos falando aqui. Estamos falando em trazer o movimento de forma legítima, sem extremismos, que tem intenção de derrubar o sistema patriarcal, imperialista, racista e heteronormativo que subjuga todas as mulheres, mas sempre pautado no respeito e na liberdade.

Uma solução para esse problema, talvez, seria falar sobre o feminismo com uma linguagem com “menos jargões” e mais clareza sobre diversos problemas que milhares de mulheres enfrentam todos os dias, como o racismo, o machismo e a desigualdade de classe. Isso evidenciaria um cenário comum e diminuiria a resistência na sua aceitação.

Todavia, enquanto esse discurso permear espaços privilegiados e não alcançar a periferia, o movimento ainda não estará cumprindo o seu propósito como deveria. Se o espaço da casa é um ambiente seguro para muitas pessoas, para muitas mulheres pode significar um lugar de violência e medo, e nós precisamos falar sobre isso. Estamos falando de mulheres violadas por pais, padrastos, irmãos mais velhos e até mesmo pelo próprio marido.

A violência não acontece do mesmo jeito em todos os lugares, e é por isso que seu enfrentamento não pode ser pensado a partir de um único parâmetro. Torna-se cada dia mais necessário que esse tema seja amplamente discutido como uma questão democrática de respeito e dignidade para que cada uma das mulheres seja capaz de romper com esse ciclo da violência e, dessa forma, contribuir para que outras mulheres ao seu redor também possam fazer.

É por isso que, enquanto a luta de algumas mulheres que se dizem “feministas” estiver limitada ao seu empoderamento individual e não ao real compromisso de transformação do cenário de opressão e exploração, esse movimento vai estar longe de promover a libertação feminina e vai se tornar um debate cada dia mais superficial.

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