Atalho


Por Júlia Pessôa

16/05/2021 às 07h00

Eu adoro cortar caminho. Não por preguiça de caminhar, porque andar a esmo, sem ter de chegar a qualquer lugar, é um dos meus passatempos favoritos. Ou era, quando não era preciso interditar a vida. Mas tem algo bestamente  transgressor que me encanta na ideia de conhecer uma passagem secreta capaz de acelerar a chegada a um destino.

Não é que eu tenha pressa de chegar, necessariamente – embora quase sempre seja o caso. É a ilusão de um superpoder, o que eu mais queria ter, o de enganar o tempo. Vai indo, corta por ali, quando viu, chegou! Sem o “corta por ali”, o “vai indo” se repetiria pelo menos umas três vezes – principalmente em Minas.

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Vez ou outra, o atalho acaba sendo uma roubada: tem mais trânsito, a estrada é ruim ou, no caso de pedestres, o altíssimo risco de encontrar gente chata no caminho – o que sempre atrasa. Aí quem ri, tal e qual na letra do Aldir Blanc, é o tempo. “Não adianta tentar me fazer de besta.” 

Na vida, na estrada e nas ruas, não adianta cortar caminho quando o destino é o próprio percurso.

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