Danos colaterais
O desafio da ciência é avaliar os efeitos da imunização, cabendo à política verificar as questões logísticas do processo
Uma das metas centrais da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Covid, instalada pelo Senado Federal, deve ser a busca de causas e efeitos do processo de vacinação ora emperrado em vários estados.
Quando a ciência já constatou que a segunda dose é fundamental para consolidar a imunização, a falta de insumos compromete todo esse processo, dando margem ao debate sobre o que isso significa em termos sanitários. Avaliações iniciais apontam que há uma margem de tempo para assegurar sua eficácia, enquanto outros destacam que organismo tem memória, não podendo, pois, aferir por quanto tempo é possível esperar a segunda etapa. Há consenso, porém, sobre a necessidade de sua aplicação.
A Covid é um desafio para todas as instâncias, por ainda não haver um diagnóstico completo sobre sua ação. A ciência venceu o primeiro ponto ao fazer uma vacina em tão pouco tempo, algo impensável há algum tempo. Outras imunizações só ocorreram depois de anos de pesquisa. A mobilização global reduziu esse tempo para pouco mais de um ano, mas ainda há um longo caminho a ser trilhado.
Uma das discussões é descobrir o tempo de validade da vacina e se ela, como outras tantas, terá que ser repetida de ano em ano ou terá uma duração mais longa. Isso só será possível após esse prazo ser vencido e a verificação constatar se ainda há defesas ou não. O outro dado passa pelas ações colaterais.
Nesta terça-feira, por recomendação da própria Anvisa, foi suspensa a imunização de grávidas até que seja avaliado, por exemplo, o caso de uma jovem que morreu após ter recebido a primeira dose. Por prevenção, e para evitar alarmismo, a aplicação foi suspensa.
Outra questão é a garantia de estoque suficiente para imunizar um país com mais de 200 milhões de habitantes. A CPI quer saber dos laboratórios se há produção suficiente para garantir tal processo. A imunização em massa só será obtida por vacinação, e não por contaminação, como alguns setores defendem.
Ao fim e ao cabo, a CPI não pode se transformar num palanque já com vistas às eleições de 2022. Politizar um instrumento de tamanha relevância é a pior opção, sobretudo quando, além do que foi mostrado, há outros pontos, como a logística de distribuição, que devem ser discutidos por serem de interesse direto da população.
Em Minas, uma outra CPI também tem papel importante para jogar luzes numa questão que não ocorreu apenas no Estado. O fura-filas foi um processo no mínimo antiético registrado pelo país afora, com repercussão em Minas por ter sido verificado num órgão de Estado. A Assembleia Legislativa, também sem politizar a questão, deve apurar se o procedimento ocorreu dentro ou fora das regras.