Técnico do JF Vôlei exalta grupo calejado e projeta decisão da Superliga B

Final da competição é às 18h desta segunda-feira, contra o Brasília


Por Bruno Kaehler

18/04/2021 às 07h00

Marcos Henrique recorda temporada de adversidades dentro e fora de quadra e agradece confiança no trabalho executado (Foto: Divulgação JF Vôlei)

Desde seus primeiros treinos na cidade que se tornaria uma nova casa, ainda como auxiliar do JF Vôlei, o santista Marcos Henrique do Nascimento, promovido a técnico da equipe há três temporadas, expunha no semblante uma calmaria rara vista em treinadores de equipes de alto rendimento em modalidades tão intensas como o voleibol. Eis que a melhor campanha juiz-forana em sua história, coroada na última terça-feira (13) com o retorno à Superliga A, seria sacramentada por uma equipe que, além de homogênea tecnicamente, mostrou justamente esta serenidade nos momentos mais decisivos dos sets ao longo da temporada – marca da personalidade do comandante.

Seja à frente ou não da parcial nas retas finais de sets equilibrados durante toda a Superliga B de 2021, o JF Vôlei, ao contrário do que ocorreu em diversos anos anteriores, pareceu, coletivamente, compenetrado ponto a ponto, sem que qualquer tipo de pressão influenciasse negativamente as ações de jogo. A característica foi um dos pontos mais exaltados por Marcão, como é chamado popularmente, ao relembrar a trajetória na competição que termina nesta segunda-feira, na decisão contra o Brasília/Upis, às 18h, no Ginásio do Riacho, em Contagem (MG), com transmissão nacional do SporTV.

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Neste sentido, o treinador, em entrevista exclusiva à Tribuna, conta que cada obstáculo, entre os comuns de uma temporada, e os inéditos, como a mudança de rotina e medos pela pandemia ou a necessidade de viajar para atuar com mando de quadra – por não ter as portas abertas para jogar em Juiz de Fora -, amadureceram até mesmo o voleibol do elenco.
“Tecnicamente a equipe entendeu o sistema. Foram quatro meses de trabalho em que tentei pegar o melhor de cada atleta e colocar nesse sistema. Deu certo, mas acredito que um dos principais fatores na evolução foi a questão do grupo ficar calejado pelas dificuldades. Como a gente saiu de várias situações adversas durante a temporada, tiveram várias situações que nos fizeram superar e isso reflete em quadra. Criaram uma casca muito grande. Possuem uma característica que sempre quis que o time tivesse é de não se abalar tanto, independente do resultado. O importante é jogar bem e entenderam isso. Deu uma segurança inclusive em momentos decisivos”, destaca Marcão.

Os dias, desde a terça à noite até este domingo, se dividiram entre a felicidade do acesso e a preparação para a decisão. Embalado com 11 vitórias nas 11 partidas disputadas nesta Superliga B, o time local busca a popular “cereja do bolo” – o caneco nacional, novidade também para o JF Vôlei em toda a sua história. Pela frente, um rival já conhecido, superado por 3 sets a 1 ainda na primeira fase, mas que, assim como Aeroclube na semifinal, cresceu significativamente de produção e rendeu elogios de Marcos Henrique.

“Brasília é uma equipe extremamente qualificada, jovem como a nossa, de um poderio de ataque e de saque muito interessante. Vamos ter que trabalhar muito bem. Possuem dois ponteiros e um oposto muito fortes; os centrais que também dificultam nossas ações. Estamos traçando as melhores estratégias para conquistar esse título”, analisa o treinador.

A tendência é que o JF Vôlei inicie a partida com a mesma equipe que deu largada às partidas pela semifinal, composta pelo oposto Paolinetti (Thiago), o levantador Gustavo, os ponteiros Celestino e o argentino Viller, os centrais Bruno e Pilan, com Dayan de líbero.

‘Estou muito feliz por tudo o que construímos’

Em meio à pandemia de Covid-19 que gerava diariamente não apenas a mudança nas atividades da equipe, como também uma natural preocupação dos profissionais com a saúde de seus familiares, em sua maioria distantes – a equipe foi formada por atletas das mais diversas regiões do país – o JF Vôlei ainda foi a equipe que mais viajou na competição, já que, sem poder atuar em Juiz de Fora, precisava embarcar para Contagem sempre que possuía o mando – o que se repete nesta segunda. Um ponto, no entanto, fortaleceu o projeto: a confiança no trabalho realizado.

“Estou muito feliz por tudo o que construímos ao longo dos treinamentos. Criamos uma identidade de sistema de trabalho, de ataque e defesa, e credito tudo isso aos atletas pelo fato de eles acreditarem e trabalharem arduamente nesse processo. E também ao Maurício (Bara, diretor), por ter proporcionado tudo isso. Confiou em meu trabalho e me ajudou muito”, destaca Marcos Henrique. “E não adiantava trazer atletas muito bons, mas que não estivessem dispostos a ralar no dia a dia ou que não comprassem a nossa ideia”, completa.

Entre estes obstáculos inéditos na temporada, Marcão ressaltou as dificuldades em projetar até mesmo as estratégias durante a semana que antecedia uma partida. “Começava a semana, às vezes na terça com jogo sexta ou sábado, e os testes pra Covid ocorriam na terça ou quarta. Não sabíamos com quem podíamos contar no jogo até que os resultados saíssem. Isso ficava fora do nosso controle, o que incomoda muito. Mas fechamos bem a temporada nesse sentido, não tivemos maiores problemas com positivados como outras equipes.”

A busca pelo acesso era tão intensa, que a ficha de Marcos Henrique do resultado obtido demorou para cair. “O jogo foi tão tenso, com tantas viradas, que é difícil falar o que passou naquela hora. Até abaixar a adrenalina foi complicado. Sabíamos que tínhamos condições de passar porque o time é muito qualificado, mas tive que processar essa volta para a Série A. Desde que o trabalho começou, seguimos muito confiantes. E no último ponto estava mais aliviado de ter vencido o tie-break de um jogo que foi muito difícil. Ficamos preocupados”, conta.

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‘Estou cada vez mais focado em evoluir’

Questionado sobre os possíveis impactos do título, se conquistado, Marcão seguiu com os pés no chão ao projetar a sequência de sua carreira. “Tem uma frase que o Daniel (Schimitz, preparador físico) fala muito e que levo pra minha vida de que quanto mais você estuda, evolui, mais expande suas possibilidades e vê que pode crescer. É muito legal você trabalhar dentro da sua filosofia e dar certo, independente da competição. Estou cada vez mais focado em evoluir como treinador.”

Logo após o acesso, o diretor técnico Maurício Bara não mediu elogios ao comandante do JF Vôlei. Ao portal Toque de Bola, o gestor afirmou que via Marcos Henrique como um técnico de ponta do voleibol brasileiro. Em meio aos sorrisos, Marcão discordou com o colega. “O Maurício acredita muito em mim e sou muito a grato a ele. Respeito demais a opinião, ele tem muito isso de ser um mentor e sempre trocamos muitas figurinhas, mas não me vejo desta forma ainda, sendo bem sincero. Preciso ir bem na Superliga A, se tiver a oportunidade, consolidar o trabalho nela. Talvez eu tenha algumas ferramentas de um técnico de ponta, mas ainda faltam algumas coisas, como o título da Superliga B. Resta muito a fazer como treinador.”

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