Páscoa: força que vence o desânimo


Por Dom Gil Antônio Moreira, Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

04/04/2021 às 08h34- Atualizada 06/04/2021 às 08h44

A palavra ‘Páscoa’ significa passagem, pesach em hebraico. Relembra a passagem do anjo exterminador no Egito, quando o povo hebreu estava para sair da escravidão e seus primogênitos foram poupados da morte, por intervenção divina (Cf. Ex 11,7). Também recorda a travessia do Mar Vermelho, que se abriu para que aquele povo de Deus pudesse cruzar para o outro lado a pé enxuto, ficando livres da perseguição dos inimigos que vinham atrás (Cf. Ex 14, 21-22).
A Páscoa tem seu cume em Jesus, que, morrendo na cruz, não fica preso aos laços da morte, mas ressuscita para a vida que nunca será destruída (Cf. Jo 20,19-21). Páscoa é passagem da vida de pecado para o estado de graça. Para aqueles que morrem em Cristo, Páscoa é libertação. A morte não tem poder, pois se torna apenas uma passagem desta para a outra vida na casa do Pai, eterna e feliz. Páscoa significa confiança em dias melhores, que, pela força de Deus, virão, pois Ele, do alto, no extremo do amor, foi capaz de mandar Seu Filho amado para morrer por nós. A morte de Cristo é nossa vitória em todos os momentos desafiadores.
Páscoa significa movimentação da alma do fiel cristão, que, durante a vida, vai crescendo em estatura, sabedoria e graça, imitando o que viveu Jesus como verdadeiro Homem e Deus (Cf. Lc 2, 51). Na caminhada pascal, o cristão vai vencendo o pecado e abraçando continuamente o amor de Deus, deixando o egoísmo para trás, libertando-se do apego das coisas materiais para valorizar as atitudes humanitárias, as virtudes espirituais, pois são eternas.
Páscoa significa nunca desanimar diante dos problemas, dos ataques, das incompreensões, das traições e até das perseguições. É um verdadeiro abraço a Cristo dia por dia, progredindo na fé, no amor a Deus e ao próximo, buscando construir um mundo cada vez melhor, mais justo, mais fraterno. No mundo de hoje, dominado pela pandemia que parece não acabar, pelo contrário, parece estar em pior estado, muita gente pode ter a tentação do desânimo, mas a Páscoa vem trazer alento, vem dizer que nesta vida tudo passa.
Os hebreus, quando estavam no Egito, escravos, poderiam ter temido o fim de sua cultura e até de sua religião. Porém, de repente, aparecem-lhes circunstâncias novas que os libertam e tudo renasce. Após conquistarem a Terra da Promissão, constroem Jerusalém e edificam magnífico templo. Mais tarde, Nabucodonosor, em 586 a.C., invade a cidade, destrói o templo, fura os olhos do Rei Zedequias e leva prisioneiro o povo para ser seu escravo na Babilônia. A sensação era de que a religião da raça de Abraão havia sido destruída. Mas a perseverança daquela gente nos caminhos de Deus prevalecerá, pois todo reino terreno tem sua decadência, e Nabucodonosor também experimentou seu fim, morrendo completamente louco. O povo retorna, reconstrói Jerusalém e os seus muros, reedifica seu templo, e tudo volta a ser melhor que antes.
No tempo de Jesus, também os apóstolos, quando o Mestre morre na cruz, amedrontam-se e fogem. Mas um pequeno grupo permanece fiel. Maria, João Evangelista e algumas mulheres estavam no alto do Calvário, corajosos e confiantes. Mesmo diante da morte, teimavam em crer em Deus e na força da vida e não ficarão decepcionados, pois, no domingo, Jesus ressuscita para a vida que não mais acabará. Aqueles que estavam desanimados e derrotados na sexta-feira voltam agora e começam a espalhar o amor de Deus, a mensagem de Cristo para o mundo inteiro.
Dois mil anos depois, podemos celebrar, com fé e grande ânimo, a ressurreição do Senhor. A Páscoa nos dá força e nos diz que tudo passa. A morte nos desafia, mas a ressurreição nos levanta, nos põe de pé e nos garante que a vida vence sempre. A Mãe Igreja, no correr da história, vai proclamando sua certeza de que a vida supera sempre a morte e o medo. Pôde assim proclamar, com Santa Tereza D’Ávila, no século XVI: nada te perturbe, nada te amedronte. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta! (Das máximas de Santa Teresa d’Avila.)
Fica aqui o incentivo para que todos acompanhem as celebrações da Semana Santa e da Páscoa, bem como os domingos e as festas posteriores, através dos meios de comunicação social. Hoje, infelizmente, o povo não pode ir em massa às igrejas, conforme o desejo de cada um de nós. Isso passará, mas, enquanto durar, seja na Semana Santa, na Páscoa, ou no tempo depois da Páscoa, o jeito que temos de aproximar-nos de Deus é seguir pelas mídias sociais as programações. Não deixe de participar. Reserve uma, duas horas para Deus diante dos seus aparelhos eletrônicos, para rezar, ouvir a Palavra, fazer a sua Comunhão espiritual. Deus está conosco. Faça da sua casa uma verdadeira Igreja doméstica.
Envio a todos os meus votos de uma Feliz e Santa Páscoa, sobretudo àqueles que estão sofrendo com os rigores dessa pandemia. Os que estão nos hospitais, os que perderam algum ente querido, os que estão lutando contra o contágio; também os médicos e demais profissionais da saúde.
Para que saibamos que tudo isso passará, recordemos que o sofrimento que vivemos é parte do sofrimento de Jesus Cristo na cruz. Ele não foi derrotado, e nós também não o seremos. Tudo passará, pois nem o Calvário nem o túmulo do Gólgota são residências, mas circunstâncias.
Feliz Páscoa!

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