Slam Fixe, Uai! reúne poetas de JF, africanos e europeus

Evento terá participação de artistas de países de língua portuguesa, além da região espanhola da Galícia


Por Júlio Black

02/04/2021 às 07h00

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Juiz de Fora terá Sophia Bispo como uma de suas representantes (Divulgação)

A Confraria dos Poetas, de Juiz de Fora, realiza neste sábado (3) e domingo (4), às 18h e de forma virtual, a primeira edição do Slam Fixe, Uai!, evento que reúne poetas de vários países de língua portuguesa e também da região da Galícia, na Espanha. A competição pode ser acompanhada pela página do Slam Poético da Ágora no Facebook e também pelo canal da Confraria dos Poetas no YouTube.
O Slam Fixe, Uai! terá a participação de 18 poetas, sendo 11 do Brasil (Tay, Laura Rotter, Mah Ah Martins, Cigana, Juh Santos, King, Sohia Bispo, Rafa Leite, Vitão, Laura Pavão e Luciene Oliveira; a maioria de Juiz de Fora) e o restante de Angola (Omar Sebastião, mais conhecido como Poeta de Papel), Espanha (Peter Brea, que vai se expressar no idioma galego), Guiné Bissau (N’miisso Camará), Moçambique (Ivandro Sigaval), São Tomé e Príncipe (Kedy) e Portugal (Luis Perdigão e Lucerna). A primeira fase será realizada no sábado, quando serão definidos os cinco semifinalistas. No domingo acontecem a semifinal e a final, sendo que o primeiro colocado levará o prêmio de R$ 250, enquanto o segundo lugar será premiado com R$ 150, e o terceiro, com R$ 100.

Desde 2017

Segundo um dos responsáveis pela organização do Slam Fixe, Uai!, Éric Meireles, a ideia de um slam com países de língua portuguesa surgiu antes mesmo da pandemia, entre outros motivos pelas tentativas não concretizadas de levar os campeões do Slam Interescolar Nacional para a Copa do Mundo da categoria. “Chegamos na beirada com o Wandin (Wanderson Luís de Souza, que venceu o Slam Interescolar Nacional – categoria Ensino Médio – em 2019), mas desde 2017 tínhamos muita vontade de realizar o Slam Interescolar da Língua Portuguesa em Juiz de Fora”, conta. “Com a pandemia, pensamos que o mundo virtual daria condições de aproximar pessoas tão distantes e realizar uma mobilização que ultrapassa fronteiras, com os poetas da periferia de Juiz de Fora podendo dialogar com os poetas de língua portuguesa de todo mundo.”

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Outras línguas

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N’miisso Camará, de Guiné Bissau, participa do slam virtual com poesias no idioma crioulo (Divulgação)

Foi essa necessidade de migração para o virtual que tornou possível a realização do Slam Fixe, Uai!. Com os slams presenciais suspensos, foi criado um evento virtual chamado Slam viral, que teve apenas três edições mas permitiu a Éric criar laços com poetas do outro lado do oceano.
“O Chico Cesar, um dos idealizadores do Slam viral, foi nosso primeiro contato com outros poetas, pois a última edição do evento teve a participação de poetas africanos de língua portuguesa. Fui um dos jurados e me encantei com esses poetas. Foi graças a essa participação que comecei a estabelecer esses laços. O Carlos Mossoró, que é professor da Universidade Federal de Mossoró (RN), me apresentou a outra parcela de poetas africanos”, relembra. “Depois fui buscando outros caminhos e consegui estabelecer contato com o pessoal de Portugal e da Galícia, na Espanha, pois o galego e o português têm a mesma origem. E ainda teremos a N’miisso Camará, que vai declamar suas poesias em uma das variações do idioma crioulo que existe na África.”

Daqui para lá, de lá para cá

Sobre os frutos que essa primeira edição do Slam Fixe, Uai! pode render, Éric Meireles acredita que será uma forma de projetar os poetas da África e de Portugal no Brasil e vice-versa, pois “levamos esses nossos meninos para o mundo”. “É uma forma de mostrar que existem muitos falantes de língua portuguesa pelo mundo, que existe uma unidade”, argumenta. “Também oferece a abertura de espaços para nossos poetas da periferia, além de uma troca poética e estética. A gente tem uma poesia tão boa, pujante, é maneiro poder levar seus versos e a cidade para o mundo.”

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Omar Sebastião, o Poeta de Papel, será o representante de Angola (Divulgação)

Éric destaca justamente a possibilidade dessa troca de experiências e da criação poética a partir de realidades às vezes próximas, às vezes distantes. “É uma forma de trazer pra gente muitas influências, reforça o olhar sobre a poesia falada que existe fora do Brasil, e está em consonância com o objetivo da Confraria dos Poetas, que é seguir o legado do Murilo Mendes a partir de uma poesia contemporânea, pujante”, filosofa. “Existe no mundo uma diversidade de formas de ver as coisas, muitas diferenças mesmo nos países de língua portuguesa, mas que constroem o que há de comum. Existe uma relação histórica muito forte tanto com Portugal quanto com os países africanos.”
Ele dá como exemplo a proximidade que existe mesmo entre termos e expressões que, a princípio, parecem ser culturalmente distantes. “‘Fixe’ é uma gíria para ‘legal, maneiro’ em todos os países de língua portuguesa, exceto o Brasil. Ao mesmo tempo, todo mundo só achava que se falava ‘uai’ por aqui, principalmente em Minas Gerais, mas descobri que é usado da mesma forma em Guiné Bissau. Fiquei encantando com a descoberta, pois sempre se conta a história de que veio do ‘why?’ dos ingleses ou que teria vindo da senha da Inconfidência Mineira. Foi um grande prazer descobrir uma identidade com um país tão diferente e ao mesmo tempo comum, de ver que temos uma unidade de construção histórica que precisamos ‘descolonizar’.”

 

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