Grupo Teatro da Ponte apresenta ‘O jegue e o calango’ on-line

Aprovada pelo edital da Lei Aldir Blanc, peça seria apresentada inicialmente de forma presencial em cidades do interior do Rio de Janeiro


Por Júlio Black

26/03/2021 às 07h00

Versão audiovisual da peça foi gravada no início do mês em casarão histórico de Paraíba do Sul (Sala 2 Corporate/Divulgação)

O Grupo Teatro da Ponte, de Paraíba do Sul (RJ), em parceria com a Camerata de Violões Arealense, do município fluminense de Areal, realiza neste sábado (27), às 20h, no canal do projeto no YouTube, a apresentação virtual da peça “O jegue e o calango a caminho de Belém (do Pará)”. Com direção do juiz-forano Leo Cunha, o espetáculo reúne artistas de três cidades do interior do Rio de Janeiro (além de Paraíba do Sul e Areal, também participam artistas de Três Rios) e é adaptação do texto do dramaturgo Tarcízio Dalpra Jr., inspirado na obra “O boi e o burro a caminho de Belém”, de Maria Clara Machado.
Na história, um calango e um jumento peregrinam pelo Nordeste a fim de chegar a Belém, onde nasceu Jesus Cristo, mas eles se enganam e seguem a caminho de Belém do Pará. A peça estreou em 2019 e teve sua última encenação em dezembro do mesmo ano, e voltaria a ser apresentada – mais uma vez de forma presencial – após aprovação no edital da Lei Aldir Blanc da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro. Porém, a piora no quadro da pandemia obrigou o grupo a optar pela versão audiovisual, dentro do pacote de quatro ações propostas no projeto. Os outros foram duas lives, já realizadas, e a exibição na próxima terça-feira (30), às 20h, também pelo YouTube, de um documentário com todo o processo de preparação para a peça.

Da praça para a casa

“De acordo com o que foi aprovado no edital, a peça seria apresentada inicialmente em três cidades (Três Rios, Paraíba do Sul e Areal), mas houve essa questão da pandemia e tivemos que modificar o projeto, que foi autorizado pela Secretaria de Cultura. É um espetáculo para ser feito na praça, na rua, pois o grupo tem se especializado em fazer espetáculos em lugares não tradicionais”, diz Leo Cunha, acrescentando que foi preciso encontrar uma alternativa para manter o espírito da peça.
“Procuramos um casarão histórico aqui de Paraíba do Sul, o Palacete do Grama, que recebeu os abolicionistas no século XIX, onde morou o Procópio Ferreira e vários outros artistas, inclusive outros espetáculos já foram apresentados lá”, enumera, lembrando que o ator Tairone Vale ficou responsável pela direção audiovisual e edição.
Uma das preocupações de Leo foi não deixar que o espetáculo se transformasse em filme, e por isso tentaram preservar ao máximo a essência do teatro de rua. De acordo com ele, o que precisou ser mudado foi a estrutura de sonorização. “Como a trilha sonora é feita ao vivo com 12 músicos, tínhamos toda uma estrutura de captação e áudio para praça, e acabou sendo de forma mais simples, pois jogamos o som direto para o gravador”, conta. “Também houve a questão da iluminação, pois gravamos durante o dia e à noite. E tivemos que mudar os protocolos de segurança, pois é um casarão onde moram dois idosos _ uma, a Dona Minervina, é uma artista plástica de 90 anos, ainda na ativa. Fizemos uma delimitação do espaço.”
Para a gravação, eles ainda tiveram que se valer de microfones, e o próprio formato que o projeto tomou fez com que a dinâmica do espetáculo se alterasse. “Com o audiovisual você tem não só o olhar do ator, mas também do câmera, do diretor. Procuramos preservar algumas coisas do teatro de rua, que pode passar um cachorro, um carro de som, quis preservar o máximo de interferência externa”, diz. No total, foram feitas três gravações para a peça no último dia 6, com raras interrupções devido ao barulho externo.

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Cancelamento no dia da viagem

A apresentação virtual de “O jegue e o calango” será a primeira do Grupo Teatro da Ponte desde dezembro de 2019, sendo que o plano seria voltar a encená-la pelas praças das cidades no final do ano passado. Leo Cunha lembra que as últimas ações do coletivo Levante, do qual o grupo faz parte, foi o evento “Ensaio poético”, em 13 de março de 2020. No dia seguinte, estava programada uma viagem para encenar outra peça, “Lugares”, em várias unidades do Sesc pelo Rio de Janeiro, quando foram comunicados que todas as atividades haviam sido suspensas por causa da pandemia.
“Foi uma pancada na cabeça de todo mundo, alguns imaginavam que seria um ou dois meses, mas minha esposa trabalha na área de saúde e por isso já esperávamos que fosse demorar mais”, relembra. “Imagine como foi para um grupo formado por atores que iniciaram a carreira graças às oficinas de teatro do Sesc, que vislumbravam uma carreira profissional com esse trabalho.”
“No início parei com tudo, pois para mim teatro é olho no olho”, prossegue. “Mas aí você tem que sobreviver, não só pelo dinheiro, mas porque vimos o papel da arte na pandemia, que é desvalorizado o tempo todo, e tinha a pressão do grupo. Então começamos a fazer outros trabalhos, participamos de outros editais. A pandemia mexeu muito com meu fazer artístico no início, me bloqueando, mas o artista precisa continuar insistindo em viver.”

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