Riz Ahmed brilha no intenso “O som do silêncio”, do Prime Video

Indicado em seis categorias do Oscar, longa de Darius Marder mostra o drama de baterista que perde a audição


Por Júlio Black

19/03/2021 às 07h00

Riz Ahmed tem atuação impressionante como o baterista que perde a audição no longa de Darius Marder (Foto: Divulgação)

Viver nunca foi e será fácil, e entre os motivos está o fato de que precisamos conviver com o sentimento de perda. Em um primeiro momento, pode-se imaginar que se trata apenas da morte dos entes queridos, mas há perdas cotidianas que podem ser igualmente dolorosas: o fim de um relacionamento, a mudança de cidade, ou quando um problema de saúde nos torna incapazes de seguir fazendo o que tanto amamos, e de forma definitiva. É desse tema que trata o poderoso filme “O som do silêncio”, do serviço de streaming Prime Video, que recebeu seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme.

O longa dirigido pelo estreante Darius Marder tem como protagonista Reuben (Riz Ahmed). Ele é o baterista da banda/dupla de metal que mantém com a namorada Lou (Olivia Cook), com quem divide o trailer e roda o país tocando em lugares pequenos e sobrevivendo graças aos cachês das apresentações e venda de camisas e discos. Não é vida das mais fáceis, porém cada um serve de âncora para o outro superar os traumas do passado – ele é um ex-viciado, “limpo” há quatro anos, e ela vem de uma família de pais separados e com o peso emocional do suicídio da mãe. Mesmo com pouco, o amor dos dois e a paixão que dividem pela música, o sonho de ter uma carreira consolidada, são o que precisam para não afundarem de novo.

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O silêncio que ninguém ouviu

Depois de um início poderoso, com Reuben e Lou dividindo o palco em um show intenso, vem a desgraça. O baterista começa a perceber que está com problemas de audição, e uma consulta médica dá o devastador diagnóstico: ele perdeu, pelo menos, 70% da audição em cada ouvido. A situação é irreversível, e ele precisa parar de tocar imediatamente. Um paliativo – mas que não resolveria a situação – é uma cirurgia que custa US$ 40 mil. É outro drama para quem vive em um universo de poucas oportunidades, pouco dinheiro, em que se garante o amanhã ao final de cada noite.

Após o diagnóstico, Reuben fica frustrado e entra em desespero e negação, recusando-se a parar com a rotina de shows – afinal, acredita que a cirurgia é a solução, precisa de dinheiro, e este só viria com os dois nos palcos. A contragosto, ele aceita passar uma temporada em uma comunidade de pessoas com deficiência auditiva, que tem um programa especial para ex-viciados com problemas de surdez.

O início, todavia, é difícil, pois enquanto o músico ainda se sente traído pelo corpo e vê a deficiência como algo a ser consertado, o líder da comunidade, Joe (Paul Raci), explica que a comunidade é para aqueles que buscam compreender que a surdez, agora, faz parte da vida, e não é um “defeito” a ser reparado. Para isso, é preciso encontrar a serenidade e entender que será preciso um novo começo, deixar muito do passado para trás, algo que Reuben tem imensa dificuldade em compreender.

O longo caminho até a aceitação

“O som do silêncio” (“Sound of metal”, no original) é um filme sobre perda, compreensão, aceitação, reconhecer as novas limitações e viver com elas. Porém, Darius Marder mostra por meio do desespero de seu protagonista que o caminho pode ser árido, sofrido, desesperador, ainda mais quando o que está em jogo é (deixar de) fazer aquilo que se ama. O caminho jamais será fácil, com momentos de resignação e negação, e cabe a cada um o quanto demorará até chegar o estágio de aceitação.

Entretanto, o filme não teria o mesmo impacto sem o ótimo elenco e toda sua qualidade técnica. Com um trabalho intenso de preparação, que incluiu um ano de aulas de bateria e aprendizado da linguagem de sinais, Riz Ahmed tem atuação excepcional, cristalizando na tela os vários estágios emocionais de Reuben.

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Também merecem destaque Olivia Cook como a namorada Lou e Paul Raci como Joe, além dos vários atores que têm deficiência auditiva no mundo real. Outro ponto alto do filme são o design e mixagem de som, que trafegam tanto pela fúria dos shows quanto pelos silêncios e sons quase inaudíveis que passam a cercar o protagonista em sua nova vida. Com tantos predicados, “O som do silêncio” concorre em seis categorias do Oscar: melhor filme, ator (Riz Ahmed), ator coadjuvante (Joe Raci), roteiro original, som e edição.

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