A vacinação em pacientes oncológicos
O SARS-CoV-2 foi identificado pela primeira vez em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China. Em 30 de janeiro de 2020, o diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto do novo coronavírus uma emergência de saúde pública de interesse internacional.
Atualmente, segundo a OMS, o SARS-CoV-2 é responsável por mais de dois milhões de mortes ao redor do mundo e permanece sem alternativas terapêuticas específicas. O mundo teve que se adaptar, e a medicina teve que se reestruturar para dar seguimento ao tratamento das doenças crônicas, inclusive o câncer. Diante desse cenário, as vacinas surgem como a principal arma no controle da pandemia.
O câncer é hoje considerado um problema de saúde pública no mundo. Só no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa para 2020 foi de 626.030 novos casos de câncer. Muito mais que uma doença, o câncer afeta emocionalmente tanto os pacientes quanto seu núcleo de convivência.
Todas as incertezas que envolvem o tratamento, juntamente com as preocupações geradas pela Covid, podem ocasionar ansiedade e até mesmo abandono de tratamento. Uma das inúmeras dúvidas é se as vacinas anticovid-19 são seguras para este grupo, visto que geralmente são pacientes submetidos a tratamentos sistêmicos, que podem interferir na sua imunidade.
As vacinas classicamente contraindicadas em pacientes em tratamento oncológico são aquelas desenvolvidas com vírus vivo atenuado (enfraquecido) ou vacinas de vetor replicante (onde se usa outro vírus para ajudar na indução da imunidade). Ambas, teoricamente, poderiam gerar doença em pacientes com a imunidade deficiente.
No entanto, até o momento, as vacinas disponibilizadas no Brasil apresentam outros mecanismos de ação. A vacina de Oxford/AstraZeneca é constituída por um adenovírus utilizado como vetor, sendo que este não apresenta possibilidade de replicação. A Coronavac é classificada como vacina de vírus inativado, e a vacina da Pfizer/BioNtech utiliza a tecnologia do RNA mensageiro para estimular a resposta imune. Sendo assim, tais vacinas não devem oferecer risco de desenvolver doença em pacientes imunodeprimidos, e, inicialmente, a única contraindicação específica seria a hipersensibilidade a qualquer um de seus componentes.
Devido ao número limitado de doses de vacinas disponíveis, os governos veem elegendo grupos prioritários para a vacinação, baseado no risco de contágio e/ou de desenvolvimento de formas graves da doença.
Inúmeros estudos vêm demonstrando que pacientes com câncer, infectados pelo novo coronavírus, têm mais chance de complicações e risco de morte, devido a uma maior fragilidade clínica imposta pela doença ou por tratamentos de efeito imunossupressor, evidenciando o aumento da probabilidade de complicações graves em pacientes oncológicos.
Apesar de os ensaios clínicos não terem incluído pacientes oncológicos, as evidências em relação à segurança das vacinas anticovid-19 nesses pacientes, e o racional teórico dos seus mecanismos de ação, são suficientes para a indicar a vacinação prioritária em pacientes com câncer, ou até 5 anos após o término do mesmo. Já os pacientes com intervalo livre de doença acima de 5 anos devem ser elencados na sua respectiva faixa etária para priorização da vacinação.
A vacinação não exclui a necessidade do distanciamento social e medidas de precaução por parte do paciente e dos conviventes.
Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.