Luís XVI escapará da guilhotina?


Por Leandro Silva Barbosa, jornalista

04/02/2021 às 06h58

“Vai para p*ta que pariu. O leite condensado é para enfiar no rabo de vocês.” Essa frase poderia ter sido proferida em uma discussão de botequim, em uma briga de adolescentes, em um filme pornô ou pela falecida Dercy Gonçalves, mas foi dita há poucos dias pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, após vir à baila a esbórnia com alimentos supérfluos comprados pelo Governo federal durante a pandemia. O insulto à imprensa, que também é um agravo ao cidadão que deseja saber onde, como e com o que o dinheiro de seus impostos está sendo gasto, foi ovacionado por seguidores e aliados do mandatário.

Seria esse o novo “Se o povo não tem pão para comer, que coma brioche”, atribuído à monarca francesa Maria Antonieta? Vale lembrar outubro passado, quando um cidadão desesperado com o aumento do preço do arroz pediu ao presidente para ajudar o povo; a resposta foi um sonoro “Vai comprar na Venezuela”. Sim, o país de Nicolás Maduro, que recentemente doou oxigênio e mandou profissionais de saúde para Manaus, fazendo o trabalho que o Governo do Brasil deveria fazer e não fez. A situação ficou tão imoral que fez os contos do Marquês de Sade parecerem até romances inocentes.

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As alusões à França do século XVIII não são fortuitas, já que o assombro de uma crise econômica sem precedentes é cada vez mais tangível. Tal como em 120 Dias de Sodoma, a maioria da nobreza e do baixo clero de Brasília não resistiu ao opulente banquete de emendas parlamentares, que custou mais de R$ 500 milhões e quatro ministérios ao Governo. Antes da divulgação de todos esses gastos exorbitantes, no penúltimo fim de semana de janeiro, o povo deu o seu recado; jacobinos e girondinos saíram às ruas clamando por revolução.

Mas, com o resultado das eleições para a presidência das duas casas legislativas federais, será que a Bastilha ruirá? Com dois súditos fiéis ao capitão ocupante da Presidência da República no comando da Câmara e do Senado, o impeachment parece um pouco mais distante. Se acontecer, Napoleão assume, mas ficará acuado frente ao poderio Centrão. Talvez a esperança fosse a cassação da chapa via Judiciário. Neste caso, os girondinos voltam ao poder com a política neoliberalista de sempre, mas ainda não há um Robespierre. De todo modo, o rei está nu. Agora, resta saber se Luiz XVI resistirá à guilhotina.

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