A caneta de Lira

Novo presidente da Câmara Federal deu mostras de não levar desaforos para casa e de jogar duro quando em pauta estão os interesses do Centrão


Por Tribuna

03/02/2021 às 07h00

O presidente Jair Bolsonaro foi o grande vencedor na eleição da Câmara e do Senado, com votação expressiva de seus aliados, o deputado Arthur Lira (PP) e o senador Rodrigo Pacheco (DEM), respectivamente. O Centrão deu prova de sua força, e o deputado Rodrigo Maia acabou sendo o grande derrotado, perdendo assertividade até dentro do seu próprio partido. O Democratas se dividiu, e a dissidência a favor de Lira foi bem maior do que ele pensava. Mais ainda, tão logo tomou posse, o novo presidente da Câmara, de uma canetada só, deu fim ao espaço que o bloco do deputado Baleia Rossi ainda teria na Mesa Diretora.

Há várias questões a serem levantadas na eleição de segunda-feira. Os dois presidentes, em discurso inaugural, defenderam a unidade do Parlamento e o fim da polarização, que, no entendimento de ambos, só fez mal à política. Na prática, será preciso conferir, mas o primeiro ato de Arthur Lira apontou para o caminho inverso. Surpreendendo até mesmo aliados, ele definiu os limites que serão adotados na Casa, tipo, aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. O gesto só não foi parar no Supremo porque houve recuo, e uma nova composição foi formalizada.

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Mas o que mais chamou a atenção na canetada – mesmo com o recuo – foi o recado que ele passou para os pares, para o país e para o Governo. Joga duro quando for necessário e tem o fígado como um de seus vetores, isto é, não é afeito a contrariedades. Isso posto, fica claro que, a despeito da vitória do presidente Jair Bolsonaro, que vê mais distante o processo de impeachment com os dois presidentes, o Governo terá que pagar a conta a ser apresentada em breve pelos parlamentares. A criação, ou troca em ministérios, será uma pauta presente na agenda das duas casas na relação com o Planalto.

O presidente tem dito aos apoiadores que não haverá troca no primeiro escalão, mas o Centrão, especialmente, espera que as conversas sejam iniciadas logo após o carnaval. Bolsonaro, pelo primeiro gesto de Lira, já sabe que quebrar o acordo poderá levar problemas para o Governo, algo que ele não gostaria de ter em meio a tantas demandas, como a pandemia.

A outra questão envolve as eleições de 2022. Se cumprir os acordos com os novos dirigentes do Congresso, o presidente da República terá meios para enfrentar seus principais aliados, a começar pelo PSDB do governador João Dória. Ao derrubar ações do deputado Rodrigo Maia, o presidente Arthur Lira tirou tucanos e petistas do comando da instituição. Ponto para Bolsonaro. Por sua vez, o deputado Rodrigo Maia vive um momento ímpar: tiraram-lhe a escada, o que pode levá-lo até mesmo deixar o DEM. Com isso, seu projeto de tirar o Centrão do Governo se complica.

Os próximos dias serão emblemáticos, pois se há uma coisa que ficou marcante é a pressa do Centrão em ocupar espaços de poder.

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