O líder ‘cristão’ que apagou Jesus!
Quase dois mil anos depois de Jesus ter sido julgado ilegalmente pelo Sinédrio (corte formada por sumos e ex-sumos sacerdotes), um filho de Jesus aproximou-se de um dos “soldados de Pilatos” e o contestou dizendo: “Eu ajo como meu Pai, não concordo com a ordem atual da falta de amor ao próximo, basta, chega!”. (A casta religiosa, há quase dois milênios, já havia conspirado para prender Jesus – Mateus 26:3, 4 – e ainda, depois de torturá-lo, o pregara em um madeiro.) O “soldado”, fiel ao governador “Pôncio Pilatos”, repassou a afirmação do Filho de Jesus para seu líder, a quem considerava um mito.
Naqueles dias, em pleno século XXI, o capitão – sem hesitar – por achar-se a própria verdade e com a ferocidade que lhe é peculiar, respondeu ao seu soldado: “Um dia, se o filho do morto na cruz quiser saber mesmo como é que seu pai desapareceu no governo do meu Imperador [ditador], eu conto para ele… ele não vai querer ouvir a verdade”. Ele disse essa última frase com um sorriso de canto, como quem deixa o veneno escorrer, pois vangloria esse tipo de castigo, iniciado e terminado com martírio. (Referência à fala do “mito” sobre o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, que desapareceu no período militar.)
Parte do povo, quando soube dessa fria e inumana afirmação, passou a ter certeza sobre o que formava o caráter, já duvidoso, dessa autoridade – assim também pensaram governantes de outros estados. Famílias que tiveram seus filhos ou pais eliminados de maneira atrozmente semelhante (torturadas ou largadas à própria sorte, como meros números), sentiram-se tristes com aquela afirmação draconiana, pois nem nos corpos de seus entes queridos puderam tocar e muito menos um enterro digno puderam realizar.
A história é reinventada sobretudo em tempos de crise. Numa pandemia, por exemplo, alguns lembram do amor de Cristo; outros, porém, com suas atitudes e palavras, preferem fazer com que Ele suma. Nada é mais eficaz em fazer desaparecer o Cristo do que achar normal e sem objetivos o modo como Ele viveu para garantir a nossa salvação [leia-se hoje: nossa liberdade] e ainda praticar o contrário. Os personagens mudaram, mas o roteiro é semelhante; mudaram-se os tempos, mas não a selvageria característica de alguns deles. Nada é mais eficaz em fazer desaparecer o Cristo do que achar normal e sem objetivos o modo como Ele viveu para garantir a nossa salvação.
A crueldade vivida por Jesus marca os nossos dias, seja como exemplo do que não deve ser feito quando há respeito à humanidade, seja quando vemos governantes e seus seguidores tratarem o fato de alguém ter sumido e/ou sofrido no período militar como algo a ser vangloriado. Seja, ainda, quando o governante se sente feliz encarnando o próprio Caronte (o barqueiro de Hades que carrega as almas dos mortos sobre as águas do rio Estige e Aqueronte) e, ainda, achincalha, dizendo não ser coveiro. Esse tipo de líder carrega trevas, posto que exuma sofrimentos que famílias inteiras, silenciosa e obrigatoriamente, tentam guardar na saudade como subterfúgio à angústia e ajuda a sepultar histórias pela negligência e influência desumanas. É tamanha a crueldade de um líder ao sacar argumentos sádicos pelo simples fato de ser incapaz de discutir e encarar os problemas reais que são de sua responsabilidade, escondendo-se atrás de ideologias vis.
Aqui, Jesus é ele mesmo: julgado ilegalmente por abraçar miseráveis, prostitutas, doentes, entregue por parte do povo, torturado pelo governo, morto “pelo sistema”, cujo corpo massacrado fora exposto como quem diz “é mais uma morte apenas, todo mundo vai morrer um dia”. E, por fim, acompanhando o noticiário brasileiro, ficará fácil identificar quem são: o filho de Jesus, o soldado de Pilatos e até o povo que conclama crucificação. A quem representa Pilatos, que balançou a chibata usada no açoite do Cristo numa passeata em homenagem ao próprio Cristo [arminha com a mão], resta uma questão: “Viverá lavando as mãos até quando?”.