Ler os sinais enviados por Deus


Por Equipe “Igreja em Marcha”, Grupo de Leigos Católicos

08/01/2021 às 06h58

Nesta semana, muitas Igrejas cristãs celebram a primeira manifestação de Cristo aos povos da Terra – a Epifania -, que foi incorporada ao calendário popular como a festa dos “Santos Reis”. Sua origem está no Evangelho segundo Mateus (2, 1-12), que a tradição popular ornamentou dando aos magos o título de reis. Vamos aqui chamar a atenção para um elemento chave do relato: a visão da estrela que anuncia o nascimento do rei dos judeus.

O relato bíblico diz que alguns magos chegam a Jerusalém indagando onde estava “o rei dos judeus que acaba de nascer”. E explicam: “Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. Desconcertado, Herodes chama seus sábios para obter uma resposta, e eles indicam a cidade de Belém. Ao se dirigirem a Belém, percebem que “a estrela ia à frente deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino”. E o texto acrescenta: “Ao observarem a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande”. O restante da narrativa é bem conhecido: adoração, oferta de presentes e alerta em sonho para retornar por outro caminho.

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Vejamos então o papel desempenhado pela estrela no relato bíblico. Ela anuncia aos magos – peritos em astrologia, praticada na Pérsia – o nascimento do rei dos judeus, mas em nenhum momento o texto diz que ela os tenha guiado até o palácio de Herodes. Ao se aproximarem de Jerusalém, eles se deixaram guiar pelo senso comum, pois todo mundo sabe que reis nascem em palácios. Este foi seu erro: deixar de lado o sinal da estrela antes de chegar ao final da jornada. Corrigido o rumo em direção a Belém, eles viram novamente, e, com grande alegria, a estrela que os conduziu até o local onde de fato estava o menino com sua mãe.

A estrela cumpriu seu papel de anunciar e guiar os magos até Jesus, sinalizando que aquele não era um rei igual aos outros. Não foi ela a responsável pelo desvio de rota que levou os magos a procurar Herodes, com todas as funestas consequências desse ato. Essa responsabilidade cabe unicamente aos magos, que, confiantes em seu próprio saber, não se deixaram mais interpelar pelo sinal enviado por Deus. Seguiram o sinal divino, mas somente na primeira parte: a data do nascimento do rei dos judeus; não deram atenção à segunda parte: o local desse nascimento. E justamente nisso residia sua grande novidade: um rei que nascia numa região de periferia!
Ainda hoje continua sendo descartada essa boa notícia da salvação vinda das periferias do mundo. Entendemos os sinais de que Deus nos envia um Salvador. Mas como é difícil entender que a Salvação vem das periferias!

Desde que foi eleito Bispo de Roma e assumiu a missão de pastor universal, Francisco tem apontado, incansavelmente, que o lugar preferencial da Igreja de Cristo é nas periferias do mundo, junto às pessoas empobrecidas, migrantes ou sofredoras, porque lhes é negado o direito à Terra, Teto ou Trabalho. Hoje, essa categoria social ganha um novo e temível qualificativo: os “Sem-Vacina”, expostos à pandemia de Covid-19 sem a proteção que o Estado é obrigado a oferecer.

Francisco, qual uma estrela-sinal enviada pelo Espírito Santo, tem feito o possível para revelar ao mundo que o processo histórico da Salvação começa pelas periferias. Quem segue o caminho de Jesus precisa entender esse sinal para não tomar o rumo do palácio de Herodes, enganador e sanguinário. Nosso rumo é a humanização da Humanidade, fazendo dela uma grande sociedade de irmãos e irmãs – como ensina a Fratelli tutti.

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