Adeus, Luiz!


Por Júlia Pessôa

10/01/2021 às 07h00

Quando penso que estou livre, lá vem a aporrinhação mais uma vez. “Oi, sumida! Faz tempo que você não aparece!” Inferno. Típico negacionista, Luiz não me deixa em paz. Quer que eu vá pra Búzios, sugere um bate e volta pro Rio, um feriadão prolongado em São Paulo, espairecer numa road trip até o Sul da Bahia. Não, Luiz, que cacete! Pandemia torando, 200 mil mortos, mundo acabando e você falando em viagem. Sai fora, cara!

Mas ele insiste. Manda presente de aniversário, uma lembrancinha de Natal, faz planos platônicos comigo pra 2021, tá ali, marcando território. Ignoro e ele fica mordido. “Essa é sua última chance, Júlia.” Mentira. Pouco depois, feito um corno manso, ele volta como se nunca tivesse ameaçado ir embora, e em tom de profundidade mística: “Júlia, qual é seu destino? Deixa eu te ajudar”. Mala! Pleno 2021, quem é que ousa pensar em destino, Luiz?

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Ligo a TV, trumpistas nadando em privilégio branco invadem o Capitólio quase com um tapete vermelho estendido pela polícia. “O Brasil tá quebrado. Não posso fazer nada”, escuto de outro lado e lamento eu própria nada poder fazer para “desver” as notícias – na tentativa pueril de que não sabê-las pudesse mudar a realidade. Mal recupero o fôlego pra seguir com o dia e Luiz apela: “Júlia, as saudades estão me matando. Vem aqui ver o que tenho pra você”.

Que desgraça de homem chato. Eu tinha sido benevolente e educada até então. Mas minhas negativas, meu silêncio e minha indiferença não bastaram. Não tinha jeito, era hora de eliminar o Luiz. Fui até ele, enfrentei. Deixei claro: não pretendo, de forma alguma, aceitar os convites pra passear por aí. Pelo menos enquanto não tiver minha marquinha de vacina. Sua insistência não vai mudar isso. Não é você, sou eu. Depois joguei a pá de cal. Fui lá e cravei: “Não desejo receber mais novidades e promoções”. “Confirmar.” Adeus, Luiz do Guichê Virtual!

Epílogo: Soube que Luiz andou ciscando pros lados da Lu da Magalu e da Nat Natura. Não sei se procede, quem me contou foi Eduardo, o atendente virtual da Oi.

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Tópicos: blogs e colunas

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