Psicóloga transforma lixo em brinquedos e faz doação natalina
Projeto Borboleta, de Luciana Krempser, que entregou cerca de cem presentes, é uma homenagem à mãe, que faleceu há dois anos
Uma garrafa de 5 litros ganhou boca e olhos e se transformou no personagem Papa Cookies. Uma garrafa de desinfetante também ganhou uma cara divertida e um fio com uma bola na ponta, tornando-se um bilboquê. Com garrafas pet, papel laminado, papelão e fitas largas surgiu uma mochila simulando um foguete. Um velho lençol deu vida a um travesseiro com braços, pernas, olhos e boca. Luciana Krempser, com seu Projeto Borboleta, transformou materiais recicláveis em quase cem brinquedos que entregou na última segunda (21) ao Curumim do São Benedito, que serão distribuídos entre as crianças atendidas pelo programa neste Natal.
“Usei muitas garrafas e o boliche virou Bolixo. A bola fiz com meia: embalo, ponho bilhetinhos do Papai Noel e fica bonito. São brinquedos da Estrela, que é minha mãe”, diz ela, que também fez da própria saudade um gesto de solidariedade. “Associei esse projeto à minha mãe, que perdi há dois anos.
Ela adorava crianças e herdei isso. Quando ela foi embora, o amor ficou em mim e estou distribuindo. Quis transformar a dor de perdê-la em algo que desse alegria às pessoas”, explica Luciana, de 45 anos, psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social, no Bairro Vitorino Braga.
Carmem, sua mãe, tinha uma loja no Bairro Esplanada, onde Luciana e seus quatro irmãos foram criados, e no local costumava ser muito solidária com a comunidade. “Projetos como esse é um consolo. Todo mundo deveria fazer isso com suas dores, descobrindo do caminho para ter uma saudade boa”, sugere Luciana, que já tinha por costume fazer a reciclagem, mas logo no início da pandemia, com a suspensão do trabalho, passou a produzir os brinquedos e impôs a meta de entregá-los no Natal. “Escolhi o Natal porque minha mãe adorava a data. Ela que comprava presentes, arrumava a casa. Ela sabia ser feliz e fazia a gente feliz”, recorda-se.
‘O lixo pode virar de tudo’
Luciana tem um filho de 12 anos, um de seus maiores incentivadores. Segundo conta, um dia ele viu num comercial um estojo e pediu de presente. “Era muito caro”, lembra-se ela, que sugeriu fazer um semelhante e o menino aceitou. “O lixo pode virar de tudo. Até o orgânico vira adubo. Já tive uma composteira que aproveitei para as minhas plantinhas”, aponta. “Já sou muito fã de reciclagem, da ideia de ajudar o planeta, e evito jogar fora lixo que não se desintegra facilmente”, acrescenta ela, que com meia e espuma de um travesseiro velho fez o Pingo de Lixo, personagem com poderes de renovação e resiliência. “Quem ganha um Pingo de Lixo está ganhando talismã de proteção”, anuncia.
Borboleta, o nome do projeto, deriva de uma crença sua em relação à mãe. “Não tenho religião. Mas acredito que ela tenha se transformado em uma linda Borboleta”, emociona-se. “Gosto de acreditar numa força maior”, afirma a mulher, dona de um perfil no Instagram no qual publica imagens de suas criações, numa tentativa de também mobilizar atenções para a importância da reciclagem e da solidariedade. “Ganhei brinquedo usado e fiz uma roupa nova. No final da campanha muita gente me ajudou a completar o número de crianças que queria atender”, comemora, certa de que tudo pode se transformar, do lixo ao luto. “Não podia deixar essa dor me sufocar.”