AULAS REMOTAS: SENTIMENTOS E PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES


Por Pricilla Cerqueira, Luciana Tenuta e Rita Batista

08/12/2020 às 17h39- Atualizada 08/12/2020 às 17h42

O ano de 2020 impôs desafios inimagináveis para todas as pessoas. Na educação, o impacto foi grandioso. Quem não tinha familiaridade com o uso de tecnologias digitais teve que se adequar instantaneamente. Não houve tempo para discussão, preparação, organização, aprendizado ou familiarização. Foi exigido de educadores, estudantes, gestores e pais novas atitudes frente ao desafio de aprender-estudar-ensinar em tempos de pandemia. E assim, todos nós, que fazemos a educação, tivemos que, obrigatoriamente, migrar de um modelo de educação basicamente presencial para um modelo remoto, com a obrigatoriedade de dominar e usar quotidianamente diversas ferramentas e recursos tecnológicos.

Meet, Zoom, Ocam, WhatsApp, Google Classroom, Loom, Youtube, Power Point, Excel – esses são apenas alguns dos recursos ou plataformas tecnológicas digitais utilizadas rotineiramente pelos professores para fazerem as aulas acontecerem. No entanto, no início das aulas não presenciais, muito professores sequer sabiam da existência de muitos desses recursos.

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Uma pesquisa do Instituto Península (https://institutopeninsula.org.br/wp-content/uploads/2020/08/Sentimentos_-fase-3.pdf) apontou que antes da paralisação das aulas presenciais, 88% dos professores nunca tinha dado aula à distância de forma remota e que 83% dos pesquisados não se sentiam preparados para as aulas on line. No entanto, 94% dos professores reconhecem, hoje, a importância da tecnologia para a aprendizagem.

Numa rápida conversa com um grupo de professores de Matemática (em reunião on line, claro!), os sentimentos e emoções em relação aos desafios educacionais desse ano atípico passam por palavras e expressões, como: sufocado, cansado, esgotado, desafiado, sem paciência, angustiado. Esses professores relatam não apenas o desafio de terem que se adequar a uma nova realidade, mas também, ao excesso de trabalho que o ensino remoto exige. Preparar aula, gravar vídeo, selecionar atividades, usar plataformas e aplicativos de forma síncrona e assíncrona, ter sua ‘sala de aula invadida por múltiplos olhares, ser permanentemente avaliado por pais, estudantes, supervisores e gestores – assim é o dia-a-dia da maioria dos professores da educação básica. Some-se a isso, o fato de que é preciso ser criativo, motivar os alunos, acompanhar as aprendizagens e avanços dos estudantes, realizar propostas avaliativas, corrigir atividades, preencher planilhas, preocupar-se com a conectividade e com a não-democratização de tecnologias digitais para todos os alunos… Essa é uma realidade também verificada pela pesquisa do Instituto Península que constatou que os professores continuam se sentindo ansiosos (64%) e que agora (dados de agosto) se sentem mais sobrecarregados do que antes (53%) e cansados (46%). A pesquisa apontou ainda que 1 em cada 3 professores relatam ter piorado em certos aspectos da vida, como a prática de atividades de lazer e cultura, condicionamento físico e qualidade do sono.

Por outro lado, esses mesmos professores falam do aprendizado e do novo olhar que foi conquistado com esse novo jeito de ensinar e aprender. Muitos acreditam que os desafios do ensino remoto, experienciado neste ano, servirá de plataforma para conduzir, posteriormente, o processo educativo de uma forma mais plural. Esses educadores advogam que essa é uma aposta para o ensino no futuro e que, as experiências vivenciadas neste ano ampliaram suas capacidades para o uso de tecnologias na educação e redimensionaram as percepções acerca do ensino à distância. Imaginamos, por conseguinte, que o ‘ensino híbrido’, que envolve atividades presenciais e remotas e que é considerado uma metodologia ativa (centra o aluno como ator principal do processo educativo) será muito mais utilizado em um futuro que já se faz presente, em consequência da familiaridade que os desafios do ensino, obrigatoriamente remoto, impuseram ao longo deste ano. E esse é apenas um dos bons frutos que já estamos colhendo.

Pricilla Cerqueira: primendeserqueira@gmail.com

Rita Batista:rica.basil@gmail.com

Luciana Tenuta: lutenuta@gmail.com

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