Soberba e passado não ganham campeonato


Por Juliana Netto

03/12/2020 às 06h58

Atual campeão da Libertadores, o Flamengo viveu sua derradeira partida na competição deste ano na terça, após eliminação nos pênaltis contra o Racing, no Maracanã. Segundo adeus em aproximadamente 15 dias.

Contra o São Paulo, a falha do goleiro Hugo, ainda no primeiro desafio do mata-mata, foi considerada justificativa – até plausível. Antes de ontem, a nova má apresentação de Gustavo Henrique. A chance clara de gol perdida por Vitinho. O pênalti mal cobrado por Arão. As más substituições de Rogério Ceni. Ouso, caro leitor, ir além. Como rubro-negra assumida que sou, vejo que o Flamengo versão 2020, embora tenha mantido boa parte de seu elenco, muito se distancia daquela histórica equipe do ano anterior. E acumula muitas características que o fazem merecer viver tal momento.

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Apoiados na muleta daquele memorável título em Lima, jogadores e diretoria entraram na já conhecida soberba que surge em alguns times – sobretudo brasileiros – após uma expressiva conquista na temporada anterior. De “carteirada” em “carteirada”, o Rubro-Negro vem entrando em campo esperando marcar os mesmos milagrosos gols nos instantes finais, tal como no Peru.

No mesmo nível de arrogância, os dirigentes do clube passaram a acreditar que a fórmula para o sucesso estaria em nomes gringos. Sem dar certo com Dome, recuou e apostou em Ceni, que pouca coisa mudou. Gramado do Ninho do Urubu. Do Maracanã, administrado em parte pelo Fla. Departamento médico. Direitos de transmissão. Nada mais precisaria evoluir diante do patamar alcançado.

Até mesmo os torcedores, que aglomeravam-se aos milhares quebrando recordes e recordes no Macaranã, foram menosprezados. Em tempos de pandemia, era urgente o retorno aos gramados, defendeu a diretoria em junho. Sem público, o temido estádio já não faz medo em nenhum adversário. Os gritos para correção de posicionamento em campo demonstram que sem a nação, a coisa não flui.
Situação não exclusiva do Rubro-Negro carioca. O arquirrival Vasco, por exemplo, também viveu seu momento de soberba, ao começar bem o Brasileirão, e hoje vive sua realidade. O Cruzeiro, com sucessivas temporadas de títulos, sucumbe na Série B. Até o Grêmio de Renato Gaúcho viveu seu momento de estremecida.

Coisas dos times brasileiros, que, por vezes, vivem do tal peso da camisa. E, diferentemente de algumas equipes de outras modalidades, não conseguem traçar um planejamento a longo prazo, sem se levar pelo eco passional das arquibancadas.
E aí, quando o resultado não vem, resta somente viver de passado

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