Poeta Tay vence Slam MG e representa o estado no Slam BR

A turma do slam de Juiz de Fora continua a mostrar que a palavra, a rima e os versos, aqui, são fortes. Desta vez, o destaque é a poeta Tay, que venceu no último sábado (21) o Slam MG e será uma das representantes do estado no Slam BR, que acontece entre os dias 18 e 19 de dezembro, com transmissão pelo canal do Slam BR no YouTube.

A cidade participou da competição com quatro slams: além de Tay como representante do Slam Poético da Ágora, Mariana Miranda representou o Slam Batalha da Ágora, Laura Roter representou o Slam Virtual da Confraria dos Poetas, e Nega Preto, de Petrópolis (RJ), foi o nome do Mais Um Slam.

Esta foi a primeira competição de nível estadual que Thainá Fernanda de Sales Paulino, 19 anos, venceu, superando outros 18 competidores, e agora vai encarar jovens de todo o país em nome de Minas Gerais ao lado de Nega Preto e da Poeta Inza, do Slam Afro de Belo Horizonte – missão que encara como grande responsabilidade.

“Juiz de Fora é uma cidade extremamente rica, culturalmente falando; Minas Gerais, então, nem se fala, temos poetas de altíssima qualidade, e ser a representante da poesia falada de Juiz de Fora e Minas significa muito para mim. E será uma responsabilidade muito grande, o que dá um certo medo (risos), porém é muito gratificante. Estou criando muitas expectativas, e espero nos representar muito bem”, diz a jovem, que atualmente cursa ciências sociais na UFJF.

Para sair vencedora na mais importante competição de slam do estado, Tay ainda precisou encarar o desafio da apresentação virtual: com a pandemia de Covid-19 que não vai embora, a edição deste ano foi transmitida pelo YouTube, então não havia o calor e a adrenalina do público para empurrar seus versos e sua interpretação – um dos quesitos mais importantes de avaliação.

“Apresentar sem público é um dos meus maiores desafios. Não tem a mesma emoção, a energia do público faz muita falta”, afirma. “Essa modalidade virtual foi algo bastante difícil. Inclusive, na primeira fase eliminatória, passei por alguns problemas técnicos por conta da internet que estava falhando e tive que pedir para retomar a apresentação, mas no final tudo deu certo.”

Descoberta do slam

Thainá começou a participar dos slams em Juiz de Fora em 2018, quando se apresentou na Confraria dos Poetas, mas diz que a poesia marginal e as artes urbanas estiveram continuamente presentes na sua vida através do hip-hop. “Sempre fui fascinada pela arte, é algo presente na minha vida. Sempre gostei de escrever, quando criança fazia rimas, pequenos textos, e até me arriscava a cantar (risos), tudo isso com influência da cultura hip-hop.”

“Na minha adolescência comecei a escrever letras similares às que estava acostumada ouvir com o rap, fazendo sempre denúncias contra todas as formas de opressão e contando um pouco da minha realidade e vivência enquanto jovem preta e periférica, mas por não saber encaixar essas letras na batida não sabia de que forma aproveitá-las”, prossegue. “Então conheci o slam aos 17 anos, através de um amigo que me apresentou à Confraria dos Poetas, a qual me ajudou a organizar a primeira roda de poesia na escola estadual em que eu estudava, a Professor José Saint Clair M. Alves (no Bairro Santa Clara). A partir disso passei a acompanhar e me encontrei como poeta.”

O apoio dos pais, Thainá diz, tem sido fundamental. “Meus pais sempre me apoiam quando se trata dos meus sonhos, e são meus maiores incentivadores. Quando comecei não era levada muito a sério, mas quando viram que era algo importante para mim, passaram a entender e me apoiar como artista.”

Poesia contra a opressão do sistema

Em um país com tantas desigualdades, falta de oportunidades e preconceitos como o Brasil – principalmente para a população preta -, Tay acredita que o slam é uma forma de expressão artística de suma importância para o jovem da periferia, que tem a chance de se inserir tanto na arte quanto nas questões sociais e políticas, entre outras.

“A poesia marginal é uma ferramenta muito importante de luta e resistência. Nossa voz tem um poder enorme, e o slam é um espaço onde jovens, assim como eu, podem ter voz. Nossa sociedade, infelizmente, sempre buscou nos silenciar, nos censurar e nos calar, mas a arte é libertadora e faz com que nossas vozes sejam ouvidas”, afirma. “Por isso o slam tem sido importante para essa inserção dos jovens periféricos em questões sociais e políticas. A poesia, para mim, é desabafo, relato de coisas que já vivenciei, de coisas que vi pessoas próximas a mim vivenciarem, por isso a uso como ferramenta de luta. Ela é nossa melhor arma pra lutar contra a opressão do sistema.”

No seu caso em particular, Thainá conta que a poesia abriu “portas incríveis” e a ajudou em diversas questões. “Eu era muito tímida, tinha bastante medo de falar o que pensava, mas foi libertador quando passei a me apresentar nos saraus e no slam.”

Ajudou, ainda, na escolha do curso universitário. “Influenciou bastante. Sempre tive muito interesse pelas questões sociais, e tinha muita vontade de ajudar meu povo e lutar contra as formas de desigualdade impostas pelo sistema que vivemos, as quais procuro denunciar em minhas poesias. E o serviço social busca justamente isso, intervir nessas questões.”

Mais slams em Juiz de Fora e Minas

Mais duas competições de slam estão marcadas para este fim de semana, também de forma virtual. A primeira delas é a terceira edição do Slam Interescolar JF, que terá transmissão nesta sexta-feira (27), a partir das 14h, pela página do Slam Interescolar MG no Facebook. Como este ano não foi possível fazer as eliminatórias nas escolas, participarão todos os que se inscreveram até a última quarta-feira (25).

A competição é dividida nas categorias ensino fundamental e ensino médio e técnico profissionalizante, e os vencedores participarão no sábado (28) do Slam Interescolar MG, classificatório para o Slam Interescolar Nacional. A competição poderá ser acompanhada a partir das 14h também pela página do Slam Interescolar MG no Facebook.