Correndo contra o tempo
Com as vacinas na fase de testes, discutir a logística de sua aplicação tornou-se uma demanda global; no Brasil, o debate tem que se afastar da politização
Os recentes anúncios em torno da eficácia das vacinas, ora na fase final de pesquisa, e as previsões para sua aplicação, já a partir de dezembro em alguns países, criaram um clima de alento entre a população, ávida por boas notícias nesse período de pandemia. São vários laboratórios já na etapa final, a despeito de, em outros tempos, projetos de tal monta serem desenvolvidos em períodos mais longos, acima de quatro anos de avaliação. O debate global pode ter tido forte influência nos trabalhos, inclusive no financiamento, o que foi um avanço.
A discussão seguinte passa pela sua aplicação. Com cerca de 200 milhões de habitantes e com um dos maiores índices de contaminação e mortes, o Brasil precisa estabelecer uma ampla logística para alcançar o maior número de pessoas no menor prazo possível, pois a vacina é o único antídoto capaz de reverter o quadro de incertezas que afeta as instâncias de saúde e, sobretudo, da economia. Os processos de isolamento, extremamente necessários, comprometem as ações do setor produtivo, mas não há outro caminho.
Nessa terça-feira, em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, o prefeito Antônio Almas voltou a abordar o tema, lembrando que não desconhece as consequências econômicas das medidas ora anunciadas pelo Comitê de Enfrentamento à Covid-19, mas observou que não há outro meio. Se não forem tomadas duras medidas, agora, os custos virão depois, sobretudo no fim do ano. Ele acentuou que, dentro de 15 dias, a resolução, publicada no Diário Oficial de terça-feira, voltará a ser analisada.
A aplicação da vacina não deixa de ser uma preocupação, pois pouco tem sido falado sobre a sua logística, a despeito de ser esta a especialidade do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O Governo tem dado mostras de agir no timing errado quando se trata da Covid-19, o que é preocupante também para esta etapa. União, estados e municípios têm que agir integrados para facilitar a aplicação do antídoto, caso contrário, estaremos, de novo, no cenário de autoridades batendo cabeça enquanto a conta fica para a população.
E há, ainda, a politização, que andou permeando recentes discussões por conta das eleições de 2022. Essa questão arrefeceu, mas não saiu de cena, o que é preocupante pelas consequências. São fortes os movimentos que combatem a vacina, alguns por questões religiosas e outros por mero convencimento de não ser a solução adequada.
Agir contra todos esses empecilhos tornou-se uma demanda coletiva, pois só assim será possível voltar ao normal depois de um ano de tantas perdas de vidas, econômicas e sociais. O ano de 2021 deve ser marcado pelo recomeço que todos querem.