Juiz de Fora pode ser diferente!
Fui candidata a prefeita nestas eleições e obtive 56.699 votos, faltando perto de 2.700 votos (1%) para chegar ao segundo turno. Paciência: vida e democracia que seguem!
Como candidata, apresentei um projeto de cidade. Acredito na política e na ação política como instrumentos pelos quais é possível transformar a cidade que temos na cidade que desejamos ter. Mas sem ilusões reducionistas: jamais me faltaram discernimento e consciência para saber que há muitas pedras no caminho que nos leva da cidade real até a cidade desejada.
Diante da devastação trazida pela Primeira Guerra Mundial ao seu país, o então primeiro ministro francês Georges Clemenceau disse, em sentença memorável: “A guerra é importante demais para ser deixada nas mãos apenas dos generais”.
Da nossa parte, é razoável que se diga: diante dos tantos males e dos prejuízos trazidos pela oligarquia local à cidade de Juiz de Fora, cremos que a política é atividade por demais importante e decisiva para ser deixada nas mãos dos que preferem os seus projetos pessoais de poder aos interesses, às demandas e às necessidades da população de Juiz de Fora, sobretudo e principalmente aqueles setores que mais precisam da presença e da atuação do Poder Público.
Ora, o que move e inspira a vontade política é a convicção de que a realidade pode ser diferente do que é. O ser do processo histórico e social não traduz um destino ou uma fatalidade. Antes pelo contrário: “a História é tempo de possibilidade, não de inexorabilidade”, como sempre nos fez lembrar o professor José Eustáquio Romão, citando um mestre querido seu.
Fui à luta democrática, portanto, movida pela convicção de que estava e ainda está em nossas mãos – nas mãos das cidadãs e dos cidadãos de Juiz de Fora – o poder de chamar para si a execução de uma tarefa tão generosa quanto desafiadora: construir uma cidade justa, livre e solidária. Essa minha afirmação, aqui, não é gratuita nem retórica: acredito, sim, que somente pela soberania popular e pela participação consciente de cada cidadão e cada cidadã é que podemos levar a cabo essa tarefa.
Por isso, fui aos bairros, saí às ruas, vi, ouvi, senti de perto as pessoas: seus dramas suas frustrações, seus sofrimentos. Lembrando o poema de Drummond, diria que muitas dessas pessoas estavam taciturnas, mas devo também dizer que muitas, muitíssimas outras nutriam grandes esperanças!
Seja pela voz baixa mas firme do senhor Pedro do Bairro Grama – cuja reivindicação mais sentida foi a de um transporte urbano mais decente e mais respeitoso para com os moradores da periferia da cidade -, seja pela voz confiante da Preta (dona da Barraca da Preta, na Cidade Alta), cujo pedido mais apaixonado foi o de manter os equipamentos de esporte que ela e seus colaboradores instalaram numa pequena faixa de terreno público antes desocupado e sem utilidade, tive a oportunidade de ouvir diretamente a voz encantadora da cidadania, aqui parafraseando o imortal cronista João do Rio.
Voz indignada da cidadania de Juiz de Fora: que não clama por dádivas, que não reivindica favores nem tampouco deseja privilégios, mas que postula a realização de seus direitos mais fundamentais: saúde, educação, segurança pública, acessibilidade, transporte coletivo, emprego e renda.
Talvez incorrendo no lugar-comum, é preciso insistir no fato de que não há democracia real e substantiva onde os direitos fundamentais não sejam efetivos, onde sejam sistematicamente frustradas as expectativas de uma convivência social sustentável e civilizada, vale dizer, uma convivência a partir e com base no respeito à dignidade de todas as pessoas!
É nessa cidade possível que acredito e pela qual sigo lutando, certa de que a democracia é um processo, que não se esgota nem termina com a contagem dos votos.
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