Contra a intolerância
A morte de um aposentado no Rio Grande do Sul é um claro indicativo da violência latente na sociedade, que precisa ser combatida em benefício da própria coletividade
As imagens chocantes de um homem negro sendo espancado num supermercado de Porto Alegre, que culminaram com sua morte por asfixia, demonstram a quantas anda a intolerância. Os dois agressores, mesmo diante da vítima imobilizada, não cessaram suas ações. De acordo com uma testemunha, da mesma forma que George Floyd, nos Estados Unidos, o aposentado João Beto dizia que não conseguia respirar. Um dos envolvidos é um policial da Brigada Gaúcha, que deveria, portanto, ter o mínimo preparo para lidar com situações como esta.
Na última sexta-feira, quando se celebrou o Dia da Consciência Negra, as discussões se voltaram – e não havia como ser diferente – para o episódio. Graças às redes sociais, as imagens circularam o mundo, colocando o Brasil como mais um território em que a violência avança em todos os setores. A delegada que preside o inquérito disse que o crime foi abominável, a despeito de considerar não ter sido a cor da vítima sua motivação. É um ponto de vista, mas que não se sustenta quando se encontram situações semelhantes aqui mesmo no país. Um negro em determinados espaços é, muitas vezes, considerado suspeito em vez de consumidor.
Certamente o depoimento da jovem que estava no caixa jogará luzes na questão, pois tudo começou na hora em que a vítima e sua esposa estavam encerrando suas compras. Há os que garantem ter havido uma ameaça de agressão à funcionária, outros afirmaram ter sido um gesto, mas nenhuma dessas situações justifica tamanha brutalidade, pois os seguranças, em vez de conterem uma eventual agressão, levaram a vítima para fora da loja e iniciaram o ritual de violência. Não há qualquer espaço para arguir legítima defesa.
As ações de combate ao racismo precisam ser incentivadas para que atitudes como essa sejam condenadas por todos. A despeito dos avanços tecnológicos, o homem do século XXI continua marcado por atitudes que já deveriam ter sido superadas. As redes sociais, no entanto, tornaram-se território fértil para a exposição da intolerância contra as minorias.
Outras ações continuam marcando o dia a dia das cidades, bastando ver as reações à diversidade implementadas até mesmo pelas estruturas de poder. O atual presidente da Fundação Zumbi de
Palmares, Sérgio Camargo, é negro, mas suas atitudes em nada condizem com um órgão criado para incentivar a igualdade. Seu exercício preferido é desqualificar personagens que promovem a raça, como os cantores Gilberto Gil e Martinho da Vila, considerando-os aproveitadores. Não sofre qualquer restrição do Governo.
Combater o racismo estrutural não é uma questão só de negros. É uma luta da própria sociedade, que precisa vencer o preconceito às diferenças, que ora também atinge mulheres, homoafetivos e os menos favorecidos na escala social.