“Precisamos sair dessa cultura de morte”, diz Almas

Prefeito confirma segunda pior semana epidemiológica desde o início da pandemia e pede cumprimento dos protocolos


Por Sandra Zanella

17/11/2020 às 14h36- Atualizada 17/11/2020 às 17h55

Após a 46ª semana epidemiológica em Juiz de Fora, considerada a segunda pior desde o início da pandemia, com 597 casos confirmados em sete dias, o prefeito Antônio Almas (PSDB) realizou mais uma transmissão ao vivo pelas redes sociais nesta terça-feira (17). O objetivo foi alertar a população sobre a real necessidade de cumprir os protocolos necessários ao combate à Covid-19. “Sabemos que alguns grupos não se comprometem com os outros. Precisamos sair dessa cultura de morte, onde brincamos com a situação de risco”, disparou, citando festas clandestinas e aglomerações, inclusive no contexto das eleições, além da falta de cuidados básicos por parte dos juiz-foranos, como o uso correto de máscaras, distanciamento e higienização das mãos. Segundo ele, a quebra do isolamento social, que caiu de 60% em março/abril, para 40% atualmente, aliada a esse cenário, levou ao aumento da disseminação do coronavírus.

“A evolução da pandemia em Juiz de Fora está em um crescente. Na semana passada, tivemos o segundo maior número de casos confirmados nesses oito meses de acompanhamento da doença.” Até então, a mais grave semana epidemiológica havia sido a 27ª, entre 28 de junho e 4 de julho, com 626 confirmações de Covid-19. “O somatório de domingo e segunda é de 159 casos confirmados. Estamos com a curva em ascendência, precisamos ter responsabilidade, com cada um cumprindo seu papel nesse processo.” Durante a coletiva, o tucano informou que havia 51 pacientes de Covid-19 internados em UTIs do SUS, enquanto outros 90 leitos de tratamento intensivo da rede estavam ocupados por outras enfermidades. Com isso, a ocupação do total de UTIs SUS bateu em 81%.

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“Aconteceu também aumento no número de pacientes internados em enfermarias, com taxa de ocupação de 63%. Nunca, até aqui, tivemos tantos. Também está alta a taxa de ocupação de leitos de UTI no sistema privado, utilizado pelas classes média e média alta, por meio dos planos de saúde. É essa a população que está se contaminando mais agora. Isso tem muito a ver com o que está acontecendo na cidade clandestinamente, com as festas com mais de 30 pessoas. O ideal é tomarmos a decisão agora de nos isolarmos mais. Mas estão partindo para abusos e atos de irresponsabilidade. Se colapsar o sistema privado, amplia o colapso na rede pública, por causa da universalidade do atendimento pelo SUS.”

Desde março, o município contabiliza 27.783 casos suspeitos e 8.137 confirmados. “Infelizmente, chegamos à marca de 280 óbitos, com a publicação de cinco apenas ontem (16) e outros seis na semana passada. Será preciso enfrentarmos na nossa própria casa a perda de alguém querido para termos responsabilidade?”

“O risco do colapso sempre existirá”

Sem descartar novo retrocesso dentro do programa estadual Minas Consciente, como o ocorrido da onda verde para a amarela na última semana, o prefeito Antônio Almas pede a colaboração de todos para que o colapso do sistema de saúde não ocorra. Ele pondera que o ideal, no momento, é reduzir o número de pacientes, e não, aumentar o número de leitos. “Confiar só na expansão de leitos é muito pouco. Saímos de 108 UTIs SUS em março para atingir 175. Isso é uma parte do processo, mas não é toda a segurança. O risco do colapso sempre existirá, não podemos nos esquecer disso. É preciso que haja redução na transmissibilidade da doença.”

Segundo ele, por causa do grave momento atual, foram retomados oito leitos no HPS para atendimento de Covid e há previsão para serem disponibilizados mais 14. Almas enfatizou que em nenhum momento houve óbito em Juiz de Fora por falta de UTI. “Esse era o grande desespero de todos aqueles que nos ajudaram. Assistência até agora não faltou, mas faltará se cada um de nós não for responsável, se acharmos que a vida voltou ao normal.”

Questionado se Juiz de Fora estaria enfrentando uma segunda onda da Covid-19, Almas disse que o acontece na Europa é diferente. “No Brasil e em Juiz de Fora nós, sequer, podemos dizer que terminamos uma primeira onda. Reduzimos os números após o pico da 27ª semana, mas nunca tivemos uma redução drástica. O menor número de casos confirmados a que chegamos em uma semana foi 203. Mantivemos sempre um platô, então não podemos dizer que estamos enfrentando uma segunda onda, mas estamos tendo um agravamento, com números em ascensão.”

O prefeito alerta que a situação pode piorar nos próximos 15 dias, período em que devem ser manifestadas as contaminações em decorrência das aglomerações do último fim de semana, quando ocorreu o primeiro turno das eleições municipais. “Precisamos evitar todas as condições que só ampliam a transmissibilidade do vírus, porque também estamos chegando próximo ao Natal. Por isso, faço um alerta aos comerciantes: cumpram os protocolos, porque há risco de termos uma evolução ruim. E vocês sabem como foi custoso não exercer as atividades no período do Dia das Mães e do Dia dos Pais.”

Festas combinadas em redes sociais

Ainda na transmissão ao vivo desta terça, o chefe do Executivo municipal, Antônio Almas, chamou a atenção para as festas clandestinas que estariam sendo combinadas nas redes sociais. Segundo ele, o aumento da hospitalização estaria ligado à maior exposição. “Basta ir para a rede social e ver o número de pessoas que estão se reunindo clandestinamente, em granjas, por exemplo. Divulgam o horário e o local cerca de meia hora antes. Que falta de responsabilidade pública é essa?

Ele garantiu que a Prefeitura tem fiscalizado esses eventos. “Na semana passada, foram desarticuladas duas festas nesse sentido. Temos atuado com trabalho de inteligência da Guarda Municipal e da fiscalização para obtermos informações e chegarmos nesses locais.” Ainda conforme o prefeito, nos últimos oito meses, foram feitas mais de seis mil verificações por descumprimento dos decretos. “Vamos sair desse jogo de disputa ideológica para garantir a vida.” Ele destacou que, além das multas, os organizadores podem ser responsabilizados criminalmente pelas festas clandestinas.

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Questionado sobre como conciliar saúde e economia em meio à crise sanitária, Almas enfatizou a necessidade do cumprimento dos protocolos. “Se um bar estiver desrespeitando as determinações, e eu frequentá-lo, também estarei descumprindo. Precisamos seguir as orientações. É muito fácil transferir responsabilidade, ninguém sabe como foi difícil ampliar os leitos na cidade. Se houver necessidade, faremos restrições na onda amarela e, se houver indicação, retrocesso para a onda vermelha.”

Por fim, o prefeito falou da importância da conscientização. “Cada um de nós é um agente único na possibilidade de combate efetivo à Covid-19. Podemos fazer a diferença se seguirmos regras básicas. Quem puder, fique em casa. Quem não puder, mantenha o distanciamento social, use máscara, higienize as mãos com água e sabão ou álcool gel. Com isso, seremos agentes de mudança desse momento difícil pelo qual estamos passando.”

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