Quebra de confiança
Investigar a tentativa de invasão dos computadores do TSE é o mínimo a ser feito, por ser necessário confirmar a credibilidade das urnas eletrônicas utilizadas há anos – e com eficiência – nos pleitos eleitorais
O atraso na divulgação dos resultados das eleições de domingo deve ser investigado em toda a sua plenitude para não deixar qualquer margem de dúvidas sobre a segurança do modelo eletrônico adotado no Brasil. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luiz Roberto Barroso, passou parte do domingo explicando o que tinha ocorrido. Pela manhã, admitiu uma tentativa de invasão de hackers, dispostos a quebrar a confiabilidade do sistema. À noite, ante o atraso, admitiu que a centralização de todos os dados no TSE sobrecarregou os computadores do tribunal.
A lição foi aprendida, pois, em anos anteriores, quando os tribunais regionais tinham autonomia, a divulgação era imediata. Tão logo os dados eram colocados no sistema, o eleitor já tinha conhecimento dos números. O domingo 16 foi diferente. O atraso de quase três horas deixou todo mundo com os nervos à flor da pele. Os veículos de comunicação que faziam a cobertura em tempo real tiveram que se reinventar, criando pautas para garantir a audiência, mas o drama maior ficou com os candidatos.
Depois de uma campanha de tiro curto e, por isso mesmo, mais intensa, e de um domingo de votação, passaram horas à espera dos números. Em Juiz de Fora, a tensão maior ficou nos comitês de Wilson Rezato e Ione Barbosa, que disputavam corpo a corpo a segunda vaga. Mas até mesmo a líder das pesquisas e do primeiro turno, Margarida Salomão, não escondeu sua ansiedade. Não havia como ser diferente.
Tanto a tentativa de invasão quanto a centralização dos dados no TSE carecem de apuração. O ministro, ao anunciar o atraso, estava cercado de autoridades do Governo, como os ministros da Defesa e da Justiça, do procurador-geral da República e da Advocacia-Geral, para indicar que o Estado rejeitava qualquer especulação, mas ação dos hackers precisa ser plenamente elucidada, por não ter sido um gesto ingênuo. Ela foi própria de segmentos interessados em quebrar a confiança do eleitor num tempo em que a maior democracia do mundo vive o dilema de ter um presidente eleito e de outro que se recusa a reconhecer o resultado, apontando como fraude o modelo de voto em papel.
No Brasil, o presidente Bolsonaro, em nova conversa com os seguidores, voltou a manifestar suas dúvidas sobre as urnas eletrônicas, embora não haja qualquer prova ou indício de sua segurança. Pelo sim, pelo não, investigar é a melhor forma de encerrar esse ciclo de especulação que não beneficia em nada o processo democrático.