Minha dor é televisionada
Dor, palavra com três letras e que significa tanto. A dor é um sentimento desagradável que permeia a vida de tantos e que machuca bem no fundo; alguns sabem expressar, outros se acostumam. Mas todos nós sentimos ao longo da nossa jornada na terra. A minha dor é televisionada, a minha dor é calada e motivo de genocídio. Ela mata, destrói e faz o meu povo perder noites de sono por medo. Medo de um sistema opressor, que usa o nosso corpo como algo descartável.
Nos últimos tempos, com o que mais nos deparamos ao assistir jornais são notícias tristes, voltadas ao atual cenário que estamos vivenciando. Analisando mais a fundo, observamos que as únicas faces em destaque em notícias ruins são as de pessoas negras. Esse estigma de sempre associar negros a coisas negativas não vem de hoje, é algo enraizado em nossa sociedade, gerado pelo racismo estrutural.
Desde pequena, sempre sonhei em me tornar jornalista, mas nunca tive referências em quem me espelhar, apenas alguns jornalistas na televisão brasileira, que podemos contar nos dedos. E isso gera um desconforto; a falta de se enxergar no outro como uma inspiração positiva e também, de certa forma, saber que posso alcançar esses objetivos em minha trajetória. Mas o que vemos são notícias sobre pessoas similares a mim sendo relacionadas a algo ruim. Sempre que ligava a televisão, folheava uma revista ou até mesmo entrava em algum site, me via sendo pautada com notícias ruins e, muitas vezes, com cunho racista.
Fazendo uma breve comparação de matérias que saem nos veículos: “Jovem é preso com drogas na Zona Sul da cidade’’ – esse “jovem’’ tem a cor da pele branca. Outra matéria: “Suspeito estava correndo em bairro nobre da cidade’’ – esse “suspeito’’ é negro. Ou seja, o racismo está entranhado nas raízes de todo o país, e ainda mais nos meios de comunicação. Por que um é suspeito por ser negro, e o outro é um jovem fazendo coisas erradas?
Vejo o quanto é pertinente abrirmos espaços para a diversidade de uma forma geral. Lutar juntos para o combate do preconceito e saber dar visibilidade a isso é uma forma de amadurecimento e crescimento em prol de todos. Hoje, vejo com uma perspectiva diferente, mas com ciência de que não houve tantas mudanças ao longo dos anos.
A importância da representatividade é algo que requer tempo para ser implantada de forma positiva em redações de jornais, televisão, novelas e afins. Temos que dar voz a notícias boas que a periferia vem fazendo e criando, buscando seu lugar ao sol. Muitas vezes, não é mostrado para o mundo que ali existem pessoas boas, que lutam diariamente para sobreviver. Notícias assim inspiram pessoas e mostram que o negro é tão capaz como qualquer outro ser. Que fazemos muito por uma causa maior: viver com saúde e paz e junto dos nossos.
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