Oh! Minas Gerais


Por Wilimar Maximiano Pereira, colaborador

21/10/2020 às 06h59

Sempre que o nome do cantor e compositor José Duduca de Moraes, mais conhecido como “De Moraes”, é citado na imprensa local, é apontado como autor de “Oh! Minas Gerais”, que é, praticamente, o hino extraoficial do nosso estado.

Para elucidar os fatos, vou prestar alguns esclarecimentos sobre o músico e a composição que, talvez, não sejam de conhecimento de todos. Primeiro: a música não se chama “Oh! Minas Gerais”, nem “Ó Minas Gerais”, como alguns grafam e sim, simplesmente, “Minas Gerais”. Ela foi gravada pela primeira vez em 1942, em disco de acetato de 78 rotações por minuto (rpm) da gravadora Odeon. A gravação esteve a cargo de Manezinho Araújo e De Moraes, com acompanhamento de Antenógenes Silva e seu Conjunto, com eram designadas as bandas naquela época.

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No disco em questão consta “Arranjos de De Moraes e Manezinho Araújo”. Na partitura original editada pela Editora Musical Brasileira – Rio de Janeiro, 1946, consta tratar-se de uma “valsa popular”, sendo seus autores De Moraes e Manezinho Araújo. Só por aí, dá para notar que ele, De Moraes, não estava sozinho na empreitada, portanto, não merece sozinho os louros pela composição. No máximo pode ser considerado coautor. Então é isso: quanto à letra, tudo esclarecido.

Agora vamos analisar a melodia. “Minas Gerais” é uma versão descarada da canção italiana “Vieni Sul Mar” de autoria do napolitano Arielo Califano. A primeira versão em português dessa música foi gravada em 1910 pelo cantor carioca Eduardo Neves. Era uma música “chapa-branca”, que tinha a finalidade de enaltecer o “Encouraçado Minas Gerais”, um navio de guerra adquirido pela Marinha Brasileira naquele ano. A letra era bem diferente, não tinha nada a ver com o estado de Minas Gerais. Trinta e dois anos depois (1942), De Moraes e Manezinho Araújo fizeram a sua versão e mudaram o foco da música, omitindo o navio de guerra e apontando para o estado de Minas Gerais. Uma jogada comercial, é claro.

Cabe ressaltar aqui que não se deve confundir o “Encouraçado Minas Gerais” com o “Porta-Aviões Minas Gerais”, também adquirido pela Marinha Brasileira, só que nos anos 1960. Esse porta-aviões era uma tremendo elefante-branco, sem nenhuma utilidade prática. Na época, foi apelidado de “Belo Antônio”, numa referência ao famoso filme homônimo, estrelado pelo galã italiano Marcello Mastroianni, que encarnava um homem muito bonito, sexualmente impotente.

Esse episódio rendeu uma sátira do cantor-compositor-humorista Juca Chaves numa música que dizia: “Brasil já vai à guerra / comprou porta-aviões / um viva para Inglaterra / de oitenta e dois milhões”.

Só para encerrar definitivamente a polêmica: “Minas Gerais” é uma música italiana, com arranjos e uma versão em português feitos por De Moraes e Manezinho Araújo, não sendo correto atribuir a De Moraes a autoria da música.

Lembrando que um ex-deputado, quando era deputado estadual por Minas, tentou emplacar essa música como hino oficial do Estado, demonstrando total falta de conhecimento sobre sua real origem.

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