Agenda local
Disputas municipais, mesmo com o forte apelo nacional, são permeadas basicamente por demandas locais, que afetam diretamente a vida da população
Embora o pleito municipal tenha características próprias, com forte apelo pelas demandas imediatas da população, pelo menos nos grandes centros há um debate paralelo, visível no discurso de alguns candidatos: as eleições de 2022. Os candidatos tentam se associar ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Lula, numa antecipação do que pode ocorrer daqui a dois anos, quando a atual gestão tentará continuar no poder e o ex-presidente – ou alguém por ele indicado – tentará retornar a Brasília. As disputas no Rio de Janeiro e em São Paulo são as mais emblemáticas.
Esse modelo de polarização, que tanto deu certo no último pleito, a despeito da preocupação com 2022, no entanto, tem sido menor do que se esperava nas cidades de médio e pequeno porte, e os candidatos que apostam nessa dicotomia não têm progredido nas pesquisas. O eleitor está mais voltado para as causas locais, sobretudo quando se faz uma eleição num cenário de pandemia, no qual a preocupação pessoal se distanciou do viés ideológico.
Hoje, pelo que se vê pelo país afora, o eleitor quer saber como ficará a sua vida após a pandemia e como os prefeitos vão gerenciar a rotina das cidades a partir do novo normal. Em Uberlândia, por exemplo, o prefeito Odelmo Leão, que lidera as pesquisas, em vez de fazer um hospital de campanha, recuperou um hospital que estava prestes a fechar e o transformou em legado.
Há, é fato, uma clara dependência de Brasília para a obtenção de recursos, mas os candidatos a prefeito estão sendo desafiados a apontar como vão garantir tais investimentos e, sobretudo, como irão aplicá-los, pois está claro que a burocracia do Ministério da Economia só libera verbas a partir de projetos consistentes. E é isso que os candidatos precisam apresentar. A maior parte dos municípios vive de repasses obrigatórios e de emendas parlamentares. Isso tem que mudar.
Com demandas importantes não apenas nas áreas de saúde e educação, as prefeituras estão sendo induzidas, também, a atuarem na implementação de políticas de segurança e de mobilidade urbana, pautas que não se resolvem apenas com discurso. É necessário ter planos, especialmente na mobilidade, por conta da mudança frequente das cidades.
Em Juiz de Fora, por exemplo, o número de passageiros no transporte coletivo vem caindo ano após ano, e as empresas são induzidas a aumentar o número de linhas diante do surgimento de novas áreas urbanizadas. A dependência única e exclusiva da tarifa não se sustenta, obrigando os gestores e as empresas a discutirem alternativas. Não é simples e é desafiador.
Na segurança, o Sistema Único de Segurança exige dos municípios projetos consistentes para o recebimento de recursos. Também nessa questão, não basta o discurso. Sem projetos, nada vai adiante.