20 apresentar 20 álbuns de 1990 – Parte 2

Por Júlio Black

07/10/2020 às 07h00 - Atualizada 06/10/2020 às 14h26

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Oi, gente.

Quatro pessoas pediram (nenhuma da minha família), então prosseguimos com nossa série de álbuns clássicos lançados em 1990. Esta semana relembramos os trabalhos dos australianos do Midnight Oil em seu álbum mais bem-sucedido; George Michael decidido a mostrar aos (ainda) descrentes que era mais que um rostinho bonito e sex symbol; Ice Cube em sua estreia solo, abalando as estruturas do hip hop; os Pixies lançando mais um clássico no estilo “outro dia no escritório”; e Neil Young dando a costumeira aula de rock and roll com os comparsas do Crazy Horse.

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São cinco discos lançados há 30 anos e que, três décadas depois, seguem naquele esquema: quem conhece segue ouvindo de novo e de novo e de novo, e a geração que chegou agora merece conhecer. Então vamos lá.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

MIDNIGHT OIL, “Blue sky minning”
Confesso: Nunca tinha ouvido falar do Midnight Oil até comprar a edição de agosto de 1990 da extinta revista “Bizz”, que trazia uma entrevista gigante com o vocalista gigante da banda, (1,95m de altura) Peter Garrett, que falava sobre música, meio ambiente, política, o famoso protesto em frente à sede da Exxon. Dois meses depois, no dia em que a MTV chegou ao Brasil (20 de outubro), assisti ao videoclipe de “Blue sky mine” e zás!, o Midnight Oil virou meu grupo de rock favorito e sosseguei apenas quando encontrei o álbum em uma loja em Duque de Caxias que vendia armas (!) e fogos de artifício (!).

(Mentira, sosseguei nada. Ouvi o LP até os chiados do vinil ficarem à beira do estalo).

Três décadas depois, os Oils continuam entre minhas bandas favoritas e “Blue sky minning” segue como o melhor álbum do quinteto, apesar da concorrência de “Diesel and dust”, “Red sails in the sunset” e “Redneck Wonderland”. O disco tem rock, pop, momentos maiores-que-a-vida no estilo U2 e letras sobre gente que morreu trabalhando em minas de amianto, contra a guerra e de protesto pelo que o ser humano fazia – e ainda faz, vide o atual governo verde e amarelo – com o meio ambiente.

Para os iniciados, basta ouvir “Blue sky mine”, “Forgotten years”, “One Country”, “Antarctica”, “River runs red” ou “King of the mountain” para perceber que o discurso do Midnight Oil continua tristemente atual.

GEORGE MICHAEL, “Listen without prejudice – Vol. 1”
Sejamos sinceros: se você é do sexo masculino e tem mais de 40 anos de idade, provavelmente não gostava de George Michael nos anos 80, e não entendia a paixão das meninas por um cara que “tava na cara que era gay” desde quando cantava no Wham!.
Sim, minha gente, éramos ou tínhamos pavorosos momentos homofóbicos e não sabíamos, coube a cada um melhorar (ou não) com o tempo.

Por sorte, “Freedom! ‘90”, segunda faixa de “Listen without prejudice – Volume 1”, ajudou a acabar com o preconceito de muita gente, inclusive deste que vos escreve. Além do maravilhoso videoclipe de David Fincher, a canção era pop de primeira qualidade e anunciava um álbum superior a “Faith”, multiplatinada estreia solo do cantor.

Convidando a humanidade a “ouvir sem preconceito” seu novo álbum, George Michael estava decidido a mudar sua imagem de astro pop descartável e chegou com um trabalho que misturava pop, rock, jazz, soul e R&B em faixas como “Praying for time”, “Waiting for that day”, “Heal the pain” e “Cowboys and Angels”, que dão gosto de ouvir até hoje.

Ainda que tenha vendido oito milhões de cópias, “Listen…” foi considerado um “fracasso” em comparação com as 20 milhões de unidades de “Faith”, e por causa disso George Michael processou sua gravadora, a Columbia, por não ter promovido adequadamente o álbum. Ao final, ficamos sem o prometido “Vol. 2” da série, que seria lançado em 1991, mas nada disso invalida o grande passo que George Michael deu em seu segundo disco.

ICE CUBE, “AmeriKKKa’s most wanted”
Ice Cube era um dos integrantes do famoso e polêmico grupo N.W.A., mas deixou o quinteto por conta de várias diferenças com os outros quatro membros. Em seguida, largou a Costa Oeste americana, partiu para Nova York e gravou o seu primeiro e elogiado álbum solo, considerado um clássico do gangsta rap e inspiração para muita coisa que foi feita no hip hop nos anos 90.

“AmeriKKKa’s most wanted” tem entre seus destaques a faixa-título, “The nigga ya love to hate”, “Who’s the Mack?”, “You can’t fade me/DJ’s gafflin’” e “Turn off the radio”. Entre os temas das canções, racismo, política, desigualdade social, a vida no gueto e o vício em drogas, mas essa é a parte menos polêmica do trabalho. Ice Cube aproveitava para descer o cacete nos chamados “Oreo Cookies” (negros acusados de querer agir como brancos) e, infelizmente, também abusava do sexismo em várias letras, questão que ainda permeia boa parte do hip hop três décadas depois.

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PIXIES, “Bossanova”
Os Pixies haviam lançado “Dollittle”, um dos maiores álbuns de todos os tempos, em 1989, e o que eles fazem no ano seguinte? Lançam “Bossanova”, que fica a apenas meio limão da genialidade do trabalho anterior – e isso num clima pesado, que antecipava a saída de Kim Deal após “Trompe Le Monde” (199!), as dificuldades encontradas no estúdio e a urgência em gravar em velocidade de dobra, uma vez que Black Francis escrevia as letras e gravava os vocais “cinco minutos depois”.

Se “Doolittle” misturava os primórdios do grunge, indie, pop e insanidade, “Bossanova” tinha influências nítidas de surf music e space rock, com músicas sobre o espaço sideral, alienígenas e outras obsessões ufológicas do vocalista, além de músicas que tratam de amor e temas bizarros em geral. A faixa de abertura, “Cecilia Ann” (The Surftones), foi a primeira cover gravada pelo quarteto, e era seguida pela demente “Rock Music” e o grande hit do álbum, “Velouria”.

Mas Black Francis, Joey Santiago, Kim Deal e David Lovering tinham mais a entregar aos fãs. O álbum também tem pérolas como “Allison”, “Dig for fire”, a balada “Ana”, “Blown away”, “Is she weird” e “All over the world”, além das outras não citadas. “Bossanova” é integrante fixa da sagrada Bíblia do Rock Alternativo, e quem discordar é herege da pior espécie.

NEIL YOUNG + CRAZY HORSE, “Ragged Glory”
Para seu décimo-oitavo disco, o canadense Neil Young se reuniu com os parceiros do Crazy Horse e encerrou a década de 80 com um senhor álbum de rock de garagem. “Ragged Glory” marcou a sexta parceria de Young com o grupo, com todos enfurnados no rancho do cantor por alguns meses no estilo “ao vivo no estúdio” – apenas a última das dez faixas não foi gravada no local.

“Ragged Glory” é um disco de guitarras e rock no talo do início ao fim, como pode ser conferido logo de cara em “Country home” e “White line” – esta, em versão mais pesada que a presente no então inédito álbum “Homegrown”, lançado este ano. E o bailão do rock continua com “F*#in’ up”, “Over and over”, “Love to burn” e as demais faixas que encerram este senhor disco de rock and roll.

Tô certo ou tô errado, Sr. Guiducci?

Júlio Black

Júlio Black

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